Publifolha
06/03/2009 - 10h01

Livro explica Jung e sua exploração do universo inconsciente; leia capítulo

da Folha Online

O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) passou muito tempo na obscuridade. No Brasil, sua obra tem pouca repercussão nas universidades, se comparado às obras de Freud e Lacan, por exemplo. Além disso, seu nome costuma aparecer associado a polêmicas.

Divulgação
Jung Tito R. de A. Cavalcanti
Livro sintetiza os principais temas da obra de Carl Gustav Jung

O livro "Folha Explica - Jung" (Publifolha) oferece um panorama dinâmico sobre Jung e sua obra de exploração do universo inconsciente. O livro também esclarece os mitos sobre sua reputação e atuação, explica o seu encantamento pelos estudos de Freud, a amizade e colaboração entre os dois e o posterior rompimento por desavenças em relação à teoria do inconsciente. O autor é Tito R. de A. Cavalcanti, analista junguiano formado pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.

Leia abaixo a introdução do livro e conheça todos os volumes da série "Folha Explica". Sintéticos e dinâmicos, os livros da coleção oferecem ao leitor condições para que fique bem informado e possa refletir sobre o tema a partir de uma perspectiva atual.

*

Introdução

O nome desta coleção, "Folha Explica", é uma variante de "Freud explica". Não se sabe quem criou essa expressão, que demonstra o reconhecimento que a humanidade tem pelo vienense Sigmund Freud (1856-1939). Mas este livro vai tratar de um autor que tem sido visto como o lado B da psicologia das profundezas criada por Freud.

Dentre os primeiros exploradores do inconsciente, o suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) é certamente um dos mais contraditórios. Por um breve período --de 1906 a 1913, aproximadamente-- procurou aliar forças com Freud, de quem depois se separou para seguir seu próprio caminho. Jung criaria uma escola de pensamento que tem sido ampliada e praticada por muitos, ao redor do mundo.

No entanto, sob certo ponto de vista, ele é um marginal. No Brasil, sua inserção nas universidades existe, mas é pequena em relação às outras escolas de psicologia. Nas livrarias, as obras de seus seguidores são colocadas com freqüência nas estantes de autoajuda. Ainda hoje é considerado místico, confuso, simpatizante do nazismo e bígamo. Quanto de verdade existe nessas afirmações?

Jung acreditava que toda teoria é produto da equação pessoal de seu criador; portanto, sabia dos limites de seus escritos. Ele afirmava que tanto Freud quanto Alfred Adler (1870-1937) haviam descrito fatos que correspondiam ao dinamismo psíquico de muitas pessoas. Da mesma maneira, Jung acreditava que existem aqueles que possuem outra psicologia, similar à sua. Em suas palavras: "Chego a considerar minha contribuição como minha própria confissão subjetiva. É a minha psicologia que está nisso, meu preconceito que me leva a ver os fatos da minha própria maneira. Mas espero que Freud e Adler façam o mesmo, e confessem que suas idéias representam pontos de vista subjetivos. Desde que admitamos nosso preconceito estaremos realmente contribuindo para uma psicologia objetiva"1.

A obra de Jung pode ser vista como um esforço de resgate e tradução. Na tentativa de compreender seu mundo interno, e o de seus pacientes, ele procurou resgatar o universo simbólico humano que habitualmente se encontra sob o poder das religiões, dos místicos ou das filosofias orientais. A partir dessa pesquisa, criou um corpo teórico que traduz esse conhecimento para a linguagem ocidental. Além disso, no fim de sua vida, debruçou-se também sobre a física, a fim de encontrar respostas relativas aos fenômenos que observou nas manifestações do inconsciente.

Na segunda metade do século 20, cresceu o interesse do Ocidente pelo Oriente. Médicos acupunturistas estão em todas as capitais, existem franquias de cursos de ioga e várias escolas de meditação. Ao mesmo tempo, as religiões e o interesse pela mística ressurgiram com força inesperada. O fundamentalismo religioso, por sua vez, mostra diariamente seu poder em diferentes religiões. Os livros de Paulo Coelho exploram temas místicos e vendem como água. A leitura da obra de Jung permite uma compreensão dessas mudanças inesperadas de rumo do interesse coletivo; trabalha a hipótese de que o Ocidente chegou a um ponto no qual é necessária a retomada da vida interior, preocupação que sempre foi mais elaborada pelo Oriente.

Seu interesse pelas religiões também é fruto dessa preocupação, e nosso autor define religião como "consideração e observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como 'potências': espíritos, demônios, deuses, leis, idéias, ideais ou qualquer outra definição dada pelo homem a tais fatores"2. Desconsiderar essas potências, segundo Jung, torna-se cada vez mais difícil para o homem moderno, pois elas podem gerar não apenas patologias psíquicas, mas também convulsões sociais.

Mas é preciso prestar muita atenção a um ponto que gera confusão: Jung nunca se refere à adesão a alguma religião específica como necessária e nem defende algum tipo de atividade mística. Pretende, inclusive, escrever para o homem cujo inconsciente não é mais contido pelas igrejas tradicionais ou por uma tradição. Ele sempre se considerou um cientista empírico, ou seja, aquele que constrói hipóteses científicas a partir da descrição de realidades observadas3. Os fenômenos religiosos são realidades psíquicas e é nesse sentido que são trabalhados por Jung: seu interesse é pela experiência individual em relação aos fenômenos psíquicos --dentre os quais os fenômenos religiosos.

Jung afirmou que os fenômenos psíquicos sempre tiveram a atenção do homem, e entendia suas idéias não como um novo início na compreensão do inconsciente, mas sim como uma continuidade em relação ao trabalho realizado por muitas gerações, embora ele utilizasse o pensamento científico. Essa perspectiva faz com que suas idéias sejam freqüentemente confundidas com idéias gnósticas ou alquímicas, as quais ele cita em seus trabalhos, como se fosse um continuador e não um estudioso delas. Some-se a isso a falta de linearidade em seu pensamento, que se reflete em seus escritos, o que faz com que aqueles que procuram um sistema e uma ordem em seus textos fiquem um tanto perdidos4. Afirma "sempre considerar as coisas novamente e de outro ângulo. Meu pensamento é, por assim dizer, circular. Esse é o método que combina comigo. É, de certo modo, um novo tipo de reflexão peripatética"5. Esse estilo reflete o propósito, em sua obra, de valorizar o inconsciente - o que não significa de forma nenhuma desvalorizar a consciência. O diálogo entre as duas instâncias é o fundamental.

Jung foi um escritor prolífico; sua obra completa é composta por 18 volumes. Vários de seus seminários também têm sido editados, pouco a pouco, o que vem ampliando a gama de assuntos abarcados por ele. Seria temerário sintetizar uma obra com tantos rostos em poucas páginas, e a intenção aqui é simplesmente despertar a curiosidade do leitor pela obra de Jung. Nos dois próximos capítulos são apresentados seus conceitos principais. Em seguida, suas reflexões sobre a cultura e, por último, os desdobramentos de sua obra, elaborados por alguns de seus seguidores.

"Folha Explica - Jung"
Autor: Tito R. de A. Cavalcanti
Editora: Publifolha
Páginas:96
Quanto: R$ 18,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

[an error occurred while processing this directive] [an error occurred while processing this directive]