Publifolha
16/02/2008 - 20h03

"Central do Brasil" foi o primeiro filme brasileiro a receber o Urso de Ouro

da Folha Online

Há pouco mais de 11 anos, em 22 de fevereiro de 1998, o filme "Central do Brasil", do cineasta brasileiro Walter Salles, ganhou o Urso de Ouro de melhor filme no 48º Festival Internacional de Cinema de Berlim. Foi a primeira vez que um filme brasileiro recebeu o prêmio máximo do festival alemão, um dos mais conceituados da indústria cinematográfica.

Divulgação
"Cinema Brasileiro Hoje" é assinado pelo crítico da *Folha* Pedro Butcher
"Cinema Brasileiro Hoje" é assinado pelo crítico da Folha Pedro Butcher

O livro "Cinema Brasileiro Hoje", da Publifolha, descreve como o diretor Walter Saller se inspirou para fazer o filme e relata sua a trajetória premiada.

Leia abaixo trecho do livro sobre "Central do Brasil" e saiba mais sobre o livro.

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Em 1998, com a estréia de Central do Brasil, de Walter Salles, o processo de retomada do cinema feito no Brasil entrou em uma nova fase.

A origem do filme, bastante curiosa, remonta a janeiro de 1993, quando a presidiária baiana Maria do Socorro Nobre leu uma entrevista com o artista plástico polonês (radicado no Brasil) Frans Krajcberg, publicada pela revista Veja. Fascinada pela visão de mundo de Krajcberg, ela escreveu uma carta que foi lida e respondida, dando início a uma troca de correspondência. Essa relação epistolar chegou ao conhecimento de Walter Salles, amigo do artista desde 1985, quando rodou o documentário Frans Krajcberg, o Poeta dos Vestígios. Ele decidiu, então, filmar o primeiro encontro dos amigos, que se transformou no documentário de curta-metragem Socorro Nobre (1995).

Foi a partir da história de Socorro que Walter teve a idéia da personagem Dora, de Central do Brasil, escrevinhadora que vende seus serviços redigindo cartas para analfabetos na principal estação de trem do Rio de Janeiro, em plena era da internet. Não por acaso, o primeiro rosto que se vê no filme é o de Socorro Nobre, enquanto dita para Dora uma carta de desilusão amorosa.

Como Terra Estrangeira, Central do Brasil é um road movie. A direção da viagem, porém, não é mais para fora, mas para dentro do país. Ao se ver sob a responsabilidade de levar o menino Josué (Vinícius de Oliveira) até seu pai, no Nordeste, Dora empreende com ele uma viagem pelo interior do Brasil. Uma viagem física e também interior que, para ela, significará a possibilidade de redescobrir a sensibilidade e a solidariedade, e, para ele, a chance de encontrar uma família.

A bagagem documental de Walter Salles serviu de instrumento para incorporar à história depoimentos de pessoas que cruzaram com a equipe ao longo das filmagens. As personagens que aparecem ditando cartas a Dora, filmadas em close, formam uma interessante mistura indissociável de atores e não-atores, de depoimentos que foram escritos e outros verdadeiros.

Com sua narrativa em tom afetuoso, Central do Brasil teve uma carreira fora do comum dentro e fora do Brasil. Sua primeira exibição aconteceu em janeiro de 1998, no Sundance Film Festival, nos Estados Unidos. No mês seguinte, ganhou o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, na Alemanha. No começo de 1999, recebeu duas indicações ao Oscar: melhor filme em língua estrangeira e melhor atriz, para Fernanda Montenegro.

Central do Brasil é o filme brasileiro recente mais visto e premiado no exterior. Acumulou mais de 20 troféus e estreou em cerca de 30 países, o que ajudou a transformar Walter Salles no diretor da retomada de maior prestígio internacional. Com seu filme seguinte, O Primeiro Dia (co-dirigido por Daniela Thomas), Walter voltou ao Festival de Berlim em uma sessão especial, fora de competição. Em 2001, com Abril Despedaçado¬ (transposição para o sertão nordestino de uma história albanesa sobre vingança familiar, adaptada do livro homônimo de Ismail Kadaré), competiu no Festival de Veneza. E, em 2004, com Diários de Motocicleta, produção pan-americana sobre a viagem que o jovem Che Guevara empreendeu pela América Latina, foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cannes.

Em sua trajetória única - mas longe de ter sido unânime -,Central do Brasil exerceu um papel fundamental no processo de reinserção do cinema no coração da sociedade brasileira. Com ele, o cinema brasileiro voltou a ser motivo de celebração. Para alguns, até, Central teria desempenhado um papel além do cultural, com uma possível influência na recuperação da auto-estima do país, que havia chegado a um de seus piores momentos durante a crise moral e política do governo Collor.

"Folha Explica Cinema Brasileiro Hoje"
Autor: Pedro Butcher
Editora: Publifolha
Páginas: 120
Quanto: R$ 18,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

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