Autores apontam caminhos para a política industrial
da Folha de S.Paulo
"A melhor política industrial é não ter política industrial." A frase do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan torna explícita uma discussão nada fácil: até que ponto o país precisa de medidas para impulsionar sua produção industrial e quais seriam as mais corretas?
Maria Tereza Leme Fleury e Afonso Fleury, professores da USP (Universidade de São Paulo), compilam, em dois volumes, o pensamento de outros acadêmicos e economistas para tentar responder a esses questionamentos.
Os principais méritos de "Política Industrial 1" e "Política Industrial 2" residem em explorar as definições desse conceito e qual seria sua aplicação prática e o seu possível retorno para a economia brasileira. São três capítulos-artigos no primeiro livro e outros quatro na segunda obra.
A definição de política industrial varia de acordo com os autores dos capítulos, mas, em linha geral, ela é descrita como "a criação, a implementação, a coordenação e o controle estratégico de instrumentos destinados a ampliar a capacidade produtiva e comercial da indústria, a fim de garantir condições concorrenciais sustentáveis nos mercados interno e externo".
Diferentemente da política de câmbio (controlado, de bandas, flutuante) ou da de juros, não há uma explicação teórica pronta para o que é política industrial.
Tanto que, ao longo dos tempos --e dos governos--, esse termo foi emprestado a uma série de ações públicas que ora estimulavam a substituição de importações, ora visavam a ampliação do parque fabril, ora injetavam uma maciça quantia de recursos públicos em empreendimentos privados.
A falta de um pensamento coerente por parte da administração pública e o "comodismo" empresarial, ocasionado pela ajuda generosa do governo, acabaram enfraquecendo, ao invés de fortalecer, o conjunto de indústrias nacionais.
A abertura comercial do começo dos anos 90 e a política de câmbio do início do Real ajudaram a diminuir a participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto, o total de riquezas produzidas pelo país).
A orientação liberal da administração Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), chefe de Malan, deu mais ênfase ao controle da inflação e, para isso, usou de um forte aperto monetário e fiscal, reduzindo o crescimento econômico e o desempenho industrial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que seu governo terá uma política industrial forte, embora ainda não sejam claros os rumos que ela tomará.
Ao mesmo tempo, o compromisso do atual governo com a manutenção da chamada "agenda ortodoxa" parece contradizer uma orientação de um novo desenho de programa desenvolvimentista.
As soluções apresentadas pelos autores para contornar esse possível impasse e para recuperar o "tempo perdido" passam pelas tradicionais --fomento à indústria exportadora e valorização de recursos brasileiros, por exemplo--, mas muitas vezes saem do lugar-comum.
James Wright e Renata Giovinazzo sugerem desenvolver uma escala de produção de bens populares, para atender ao mercado interno de menor renda e também outros países em desenvolvimento, como Nigéria, Índia e Malásia. Assim os produtos brasileiros teriam um nicho de mercado com competitividade de preço.
Os autores não escapam das contextualizações necessárias. Afinal, a economia globalizada dinamizou as relações de trabalho, permitiu a internacionalização das grandes companhias e pressiona pelo uso das vantagens comparativas, ou seja, que cada país tire proveito do que sabe fazer de melhor.
Porém, seja qual for o caminho adotado, o leitor acabará os livros com a impressão de que, se o ministro Malan tivesse tido um outro pensamento, talvez o país estivesse mais bem preparado para crescer acima dos 3,5% previstos para este ano.
"Política Industrial 1 e 2"
Autor: Maria Tereza Leme Fleury (org.) e Afonso Fleury (org.)
Editora: Publifolha
Páginas:
Quanto: R$ 27,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
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