''Duas Vezes com Helena'' explora triângulo amoroso
da ReutersEstranhamento é a palavra de ordem nesse curioso triângulo amoroso formado pelo professor Alberto (Carlos Gregório), sua esposa Helena (Christine Fernandes) e o jovem Polydoro (Fábio Assunção), em ``Duas Vezes Com Helena'', de Mauro Farias, estréia desta sexta-feira.
Polydoro retorna de uma viagem à Europa e é convidado por Alberto para passar um fim de semana em Campos do Jordão. Ao chegar no local, o rapaz só encontra Helena, já que seu mentor tivera de retornar a São Paulo para tratar de assuntos urgentes.
Ambos se entregam à traição e Polydoro, encabulado com o ocorrido, se afasta do casal. Vinte e cinco anos mais tarde, ele reencontra o antigo amigo e a esposa e descobre-se vítima de um plano arquitetado especialmente para aquela data.
Para armar essa história, Mauro Farias dividiu o filme em duas narrativas bem diferentes. A primeira é contada por Polydoro enquanto que, na segunda, quem tem voz é Helena.
Ousada, a técnica quase transforma ``Duas Vezes com Helena'' em duas fitas distintas, não fosse pelos recursos de flash backs e de imagens projetadas, que interagem com os personagens e respondem pela contextualização, em ambas as partes.
Baseado num conto de Paulo Emílio Salles Gomes, o filme agrupa alguns elementos interessantes como a misteriosa ambientação do primeiro encontro entre Polydoro e Helena, que nos imprime uma incontestável sensação de dubiedade, muito embora não consigamos, a priori, identificar a razão desse sentimento.
Outro ponto que merece menção é a convicção política dos personagens. Polydoro, em meio à Segunda Guerra Mundial, flerta com os ideais fascistas. Alberto, em contrapartida, condena as opiniões do jovem discípulo. No entanto, quem é vitimado por um plano que poderia perfeitamente fazer parte dos arquivos dos cientistas nazistas é Polydoro que, mesmo com algumas pistas evidentes, não consegue sequer imaginar seu papel na trama.
``Duas Vezes com Helena'', porém, incorre em alguns excessos que o deixam um tanto fatigante. O filme assume um tom excessivamente literário, como a quase totalidade das adaptações, e soa, em muitos momentos, como algo falso.
Talvez isso se dê pelo fato de a fita ser ambientada nos anos 1940 e por abordar um relacionamento entre um jovem e um professor, ambos bastante eruditos.
O resultado final é uma produção bem formal que se apega a inúmeros elementos para alcançar um determinado efeito estético, mas que consegue despertar no espectador um certo incômodo e uma reflexão sobre a manipulação à qual é submetido o protagonista da história.