Reuters
14/05/2001 - 12h49

Jornalismo britânico vive "boom" da fabricação de sensacionalismo

da Reuters, em Londres

O "The Sun" parece ter conseguido o furo do ano, na briga de foice travada entre os jornais britânicos para conquistar os leitores do país, ao pagar a volta de Ronald Biggs do Brasil para a Grã-Bretanha, 35 anos depois de o assaltante ter fugido de uma prisão na Inglaterra.

"Há uma imensa competição entre os jornais e há muito em jogo. Pode não ser um fato muito agradável, mas teremos de nos acostumar com essa prática (de os jornais pagarem para terem matérias exclusivas)", afirmou Philippa Kennedy, ex-repórter de tablóide e hoje no comando da "Press Gazette", uma revista semanal.

Ex-funcionários insatisfeitos ou amantes abandonados de pessoas famosas podem ganhar milhares de dólares contando suas histórias. Se a fonte for uma mulher atraente e concordar em aparecer com roupas sumárias nas páginas da matéria, o pagamento pode ser ainda maior.

Um gari profissional, que ficou conhecido como Benjy the Binman, descobriu que poderia faturar alto vasculhando o lixo de pessoas famosas e ricas para depois vender suas ''descobertas'' aos jornais. Entre seus achados encontra-se uma carta descrevendo os hábitos excêntricos do cantor Elton John.

"Nos mandavam conseguir o que houvesse de mais sujo. E, se não conseguíssemos, podíamos tomar certas liberdades com os fatos. Sexo, especialmente se há pessoas famosos envolvidas, vende muito", disse um ex-repórter de um tablóide que não quis ser identificado.

A corrida também é grande para conseguir fotos de celebridades casando ou de seus bebês recém-nascidos e levá-las a casa das pessoas. E isso, em boa parte, devido ao aparecimento de revistas de fofoca como a "Hello" e a "OK".

"Esse tipo de jornalismo vem se expandindo, sem dúvida nenhuma. Os jornais acabam publicando escândalos que não precisavam sair em suas páginas. O processo desencoraja a realização de verdadeiras reportagens", afirma o advogado Paul Gilbert.
 

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