Reuters
10/04/2002 - 20h45

Judeus da França pensam em se mudar por causa de onda anti-semita

da Reuters, em Garges-les-Gonesse (França)

Assustados pela atual onda de atentados contra alvos judeus na França, muitos judeus que moram no subúrbio Garges-les-Gonesse, no norte de Paris, já estão pensando em se mudar.

Em todo o país, sinagogas, escolas, cemitérios e outros prédios da comunidade judaica estão sendo atacados nos últimos dias, em uma provável reação à ofensiva israelense contra as cidades palestinas da Cisjordânia. A França tem as maiores comunidades muçulmana e judia da Europa.

Para as cerca de 600 famílias judias deste bairro, as paredes queimadas da sinagoga, alvo de dois coquetéis molotov em uma semana, são a prova clara dos reflexos que o Oriente Médio provoca no país.

Os dois incêndios foram rapidamente controlados e não provocaram vítimas, mas muitos moradores temem novos atentados, talvez mais violentos. "Este não é um caso isolado", disse o dirigente da comunidade judaica de Garges-les-Gonesse, que por razões de segurança pediu que seu nome não seja divulgado.

"Não podemos mais andar sossegados", afirmou. "Muitos judeus franceses já pensam em se mudar." A maioria, diz ele, quer emigrar para Israel. Outros pensam nos Estados Unidos ou em comunidade judaicas maiores, na própria França.

Poucas prisões relacionadas com os atentados foram feitas até agora, mas mesmo os líderes da comunidade muçulmana imaginam que eles foram provocados por jovens revoltados com a situação no Oriente Médio e frustrados com sua própria vida na França.

Para os judeus de Garges-les-Gonesse, não há dúvidas: "Desde que a Intifada (revolta palestina contra a ocupação israelense) começou, há 18 meses, minha família e eu já fomos atacados 14 vezes. Andamos com medo", disse um corretor de seguros de 53 anos.

Seu carro foi amassado, a sacada de sua casa recebeu dois coquetéis molotov e um bloco de concreto quebrou uma vidraça. "Quem está por trás disso são muçulmanos do mesmo prédio em que eu vivo, gente com quem convivemos durante anos. Já basta, vou me mudar", disse ele.

Cercada por blocos de apartamentos populares, ocupados majoritariamente por imigrantes, a sinagoga de Garges-les-Gonesse já foi alvo de muitos ataques de jovens entediados. Mas nas últimas duas semanas a situação se agravou, o que fez a polícia colocar patrulhas especiais ali e em outros alvos, como escolas judaicas e açougues "kasher".

Ontem, o presidente da França, Jacques Chirac, condenou os recentes ataques contra alvos judaicos e pediu união entre os grupos religiosos contra o ódio e a inveja.
 

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