Reuters
25/04/2002 - 16h56

Falta de comida pode causar catástrofe no sul da África

da Reuters, em Johanesburgo

A África pode viver um desastre absoluto se uma doação de alimentos para milhões de pessoas da região sul da África não chegar em três meses, alertou o Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas) hoje.

"Ainda temos tempo de impedir uma crise maior e evitar mortes por fome. Se em três ou quatro meses nada acontecer, teremos um desastre em nossas mãos", disse Judith Lewis, diretora regional da agência para as regiões sul e leste da África.

As lavouras na região estão improdutivas, em alguns lugares por dois anos consecutivos, em decorrência da falta de chuvas no verão. Isso, ao lado de problemas políticos, fez com que a comida se esgotasse em ao menos seis países africanos.

O programa da ONU enviou equipes para o Zâmbia, Zimbábue, Maláui, Lesoto, Moçambique e Suazilândia para verificar quantas pessoas precisam de comida e em que quantidade, afirmou Lewis em uma entrevista à Reuters. Os resultados da pesquisa vão ser divulgados em meados de maio.

O órgão já está desenvolvendo programas de alimentos para 2,6 milhões de pessoas de Maláui, Zâmbia e Zimbábue. "Há indicações de que o número vai subir drasticamente."

Famílias em cinco países visitados pela diretora nas últimas semanas têm se alimentado com raízes, folhas fervidas e sementes. "Isso é muito, muito ruim", observou ela. Ela relatou ter visto homens mergulhando em rios cheios de crocodilos para arranjar raízes e mulheres trabalhando 12 horas por dia durante duas semanas, carregando água para vender em troca de um prato de milho.

Cerca de 500 pessoas em Maláui morreram de fome e doenças relacionadas à desnutrição entre dezembro de 2001 e março deste ano, disse o presidente do país, Justin Malewezi, no mês passado.

O Programa de Alimentos estima que 1,1 milhão de zambianos precisam de comida neste ano, mas o número pode aumentar, já que algumas áreas afetadas pela seca ainda têm que ser analisadas. O país terá que importar entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas de milho e agências de ajuda acreditam que mais de 1 milhão de pessoas vão enfrentar falta de alimentos.

De acordo com o governo moçambicano e agências de ajuda, há centenas de milhares de pessoas passando fome, embora os dados ainda não estejam claros.

Assim que as análises terminarem em maio, um encontro regional organizado pela ONU será organizado para desenvolver uma estratégia para fornecer alimentos para a área.

Lewis disse que também há o temor de que os países africanos sejam atingidos por uma outra seca provocada pelo El Niño neste ano, arriscando novas colheitas que serão plantadas em setembro, apesar de sinais recentes indicarem que uma seca grave não vai acontecer.

"O último relatório de que tive conhecimento não previa uma grande seca para o sul da África", disse. "Se as lavouras não produzirem nada na mesma magnitude, a escala do problema seria inimaginável."
 

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