Reuters
26/04/2002 - 01h22

"Sonhos Tropicais" mostra no cinema as mazelas incuráveis do Brasil

da Reuters, em São Paulo

A espantosa semelhança entre o Brasil de 1903 e o de 2002 é o aspecto que, de saída, fisga o espectador de "Sonhos Tropicais", promissora estréia do diretor paulista André Sturm nesta sexta-feira.

Estão lá, como cá, políticos incapazes, massas populares excluídas, jovens pobres exploradas pela prostituição e o famoso mosquito Aedes Egypti.

No Rio de Janeiro da virada do século 19 para o 20, o inseto esteve por trás de uma grave epidemia de febre amarela. Mantida a inoperância que impede a sua erradicação, quase um século depois o mesmo mosquito é o agente de uma não menos grave epidemia de dengue.

Mas não se trata de um documentário nem de um filme didático. Adaptado de um romance homônimo do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar, o roteiro assinado pelo próprio Sturm, ao lado de Fernando Bonassi e Victor Navas, libera desde seu primeiro segmento a intensa dramaticidade da figura da jovem judia polonesa Esther (Carolina Kasting).

Desembarcada no Rio de Janeiro sem saber falar português e com um endereço escrito num pedaço de papel, a moça é ajudada pelo malandro boa-praça Amaral (Douglas Simon).

Digno representante do jeitinho brasileiro, Amaral consegue se fazer compreender pela bela estrangeira e ajudá-la a descobrir a casa que procura, onde ela espera encontrar o casamento com um colono. Em vez disso, começa ali um verdadeiro pesadelo.

Atrás daquela porta, Esther encontra uma rede de prostituição, comandada por um compatriota (Antonio Petrin) que engana famílias pobres em seu país natal, convencendo-as de que enviam noivas para casamentos no Brasil.

Aqui, no entanto, as polonesas se tornam prostitutas, um negócio que dá altos lucros a uns poucos. Mesmo se rebelando, uma mulher jovem, pobre e estrangeira como Esther não tem saída senão se conformar.

Ao mesmo tempo em que a sofrida Esther acorda de seu engano, um personagem mais famoso volta da Europa - o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (Bruno Giordano). Cheio de novos planos e idealismo, Cruz é requisitado pelo governo.

Naquele início de século, o Rio, então capital federal, era assolado por epidemias como peste bubônica, depois varíola e febre amarela, resultado direto das precárias condições de moradia da imensa maioria da população - em grande parte, formada de negros que saíram diretamente da abolição da escravatura para recaírem na exclusão da educação e da profissionalização.




 

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