Reuters
19/05/2001 - 10h30

Fazendeiros sul-africanos são alvo de ataques racistas

da Reuters, em Rustenburg (África do Sul)

Rosas marcam o local onde o fazendeiro sul-africano Nick van Rensburg, 35, morreu depois de ser perseguido por oito homens negros que atiravam contra ele.

A mãe do fazendeiro branco encontrou o corpo do filho no pasto. "Ele estava deitado com o rosto para baixo. Pensei que ele não poderia respirar. Só quando virei a cabeça dele é que percebi que ele havia recebido um tiro na cabeça", afirmou Hester van Rensburg. Hester levou um tiro no ombro.

Ser fazendeiro na África do Sul parece ser uma das profissões mais perigosas do país. As razões estão cravadas no apartheid (regime de segregação racial oficialmente extinto em 1994) nas áreas rurais, onde empregados negros ainda chamam os proprietários brancos de "baas" (uma corruptela de "boss, chefe em inglês).

"Este é o John. Eu o conheço há 30 anos. Éramos bons amigos quando éramos pequenos. Costumávamos brincar juntos, não é mesmo?", pergunta Andre Korb, vizinho dos Van Rensburg.

"Sim, chefe ('baas')", responde John. Ele é muito magro, parece dez anos mais velho que Korb e suas roupas estão cheias de buracos.

Todo ano, entre 120 e 140 fazendeiros são assassinados na África do Sul, somando um total de cerca de 740 mortes desde 1995, afirmou a Agri SA, uma organização que representa a maior parte dos 42 mil proprietários de fazendas comerciais do país.

O Congresso Nacional Africano (CNA), atualmente no poder, afirma que o racismo nas áreas rurais ainda é grande, mesmo depois de sete anos da vitória do partido negro na primeira eleição multirracial da África do Sul.

"Há uma vida em nosso país que escapa da opinião pública e na qual as pessoas estão sofrendo", disse o presidente Thabo Mbeki em uma visita recente a uma comunidade rural. Van Rensburg era considerado um bom chefe, segundo seus empregados.

A maior parte dos fazendeiros sul-africanos podem não ser de todo cruéis, mas eles ainda vivem sob um clima feudal com seus trabalhadores e os assassinatos por vingança não são raros.

Os fazendeiros dizem estar sob um cerco. Segundo Warner Weber, porta-voz de uma organização de proprietários rurais, a maior parte dos ataques são politicamente motivados.

As autoridades apostam, porém, em motivos mais simples. Segundo três estudos independentes realizados no ano passado, o roubo é a principal motivação para as agressões.

"Há um grau elevado de miséria nas áreas rurais", afirmou Martin Schonteich, que participou de uma das pesquisas.

 

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