Reuters
30/08/2002 - 12h37

Principal suspeito de genocídio em Ruanda voltará ao tribunal

da Reuters, em Nairóbi

O julgamento de um ex-coronel do Exército de Ruanda apontado como um dos mentores do genocídio de 1994 deve recomeçar na segunda-feira (2), depois que uma tentativa em abril não foi bem-sucedida.

O coronel Theoneste Bagosora e outros três ex-oficiais das Forças Armadas são acusados de ordenar que milícias da etnia hutu matassem tutsis durante os cem dias de genocídio. Nesse período, cerca de 800 mil pessoas foram assassinadas.

"Todos os julgamentos são importantes, mas este tem um significado particular porque Bagosora teria sido uma das peças centrais de todo o genocídio", afirmou Kingsley Moghalu, assessor jurídico do Tribunal Criminal Internacional para Ruanda.

"Os promotores tentarão deixar claro neste julgamento que o genocídio foi uma manobra oficial do governo", disse.

Serão julgados junto com Bagosora os ex-oficiais do Exército Anatole Nsengiyumva, Aloys Ntabakuze e Gratien Kabiligi.

Os quatro se disseram inocentes das acusações de genocídio e crimes contra a humanidade, tendo permanecido em suas celas para boicotar a sessão de abertura de seu julgamento, em 2 de abril.

Os juízes do tribunal, instalado em Arusha (norte da Tanzânia), adiaram o julgamento após protestos da defesa devido ao fato de documentos importantes não terem sido traduzidos para o francês.

A defesa critica ainda o tribunal pelo fato de Bagosora ter sido obrigado a ficar seis anos detido antes do início de seu julgamento.

O tribunal já condenou oito pessoas acusadas de genocídio, desde autoridades do governo a um ex-diretor de uma fábrica de chá. Especialistas, porém, afirmam que tais julgamentos não conseguiram expor a estrutura de comando responsável pelo genocídio.

O ex-premiê de Ruanda Jean Kambanda foi condenado em maio de 1998, mas sua confissão eliminou a necessidade de um longo julgamento que poderia ter revelado detalhes sobre as decisões tomadas pelos que articularam o massacre, afirmaram especialistas.

Os sobreviventes do genocídio esperam ansiosamente pelo processo, em busca de respostas sobre o planejamento e a execução do massacre.

"Bagosora sabe a verdade sobre o que realmente aconteceu durante o genocídio", disse Antoine Mugesera, presidente de uma organização de apoio aos sobreviventes.

 

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