Reuters
11/10/2002 - 19h12

Veteranos da crise dos mísseis em Cuba criticam Bush

da Reuters, em Havana (Cuba)

Antigas autoridades e oficiais militares russos e norte-americanos, reunidos hoje para estudar as lições da crise dos mísseis de Cuba, ocorrida em 1962, criticaram a maneira como o presidente George W. Bush está conduzindo a atual crise com o Iraque.

"Não teve coisa de caubói [em 1962]", disse Wayne Smith, que foi o principal diplomata dos Estados Unidos em Havana nos anos 1970, aludindo ao texano Bush. "A crise de hoje não está sendo conduzida da mesma maneira cautelosa e prudente".

A crise dos mísseis "foi o momento mais perigoso da Guerra Fria e foi conduzido com muito cuidado e prudência, especialmente do nosso lado", acrescentou Smith.

O ex-secretário de Defesa Robert McNamara e outros ex-assessores do presidente John F. Kennedy, todos protagonistas dos 13 dias da crise causada pelo envio de mísseis nucleares soviéticos para Cuba, estão participando da conferência de três dias. O presidente de Cuba, Fidel Castro, participou da abertura do evento.

McNamara agradeceu a Castro, Kennedy e ao ex-premiê soviético Nikita Khrushchev pelas decisões e resolução de um dos momentos mais dramáticos da Guerra Fria, que colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.

"Nós evitamos a catástrofe nuclear pelas margens mais estreitas. Espero que possamos tirar lições que ajudarão a prevenir guerras nucleares no futuro", disse McNamara.

Bush, republicano, citou a crise dos mísseis de Cuba em discurso na segunda-feira (7) para justificar um ataque ao Iraque, país suspeito de esconder armas de destruição em massa. Depois do discurso de Bush, o senador democrata Edward Kennedy (Massachusetts) respondeu que seu irmão evitou um ataque a Cuba ao impor um bloqueio naval.

Os ex-assessores de Kennedy na Casa Branca e Arthur Schlesinger, historiador, e o autor de discursos Theodore Sorensen disseram que Bush usou as palavras de Kennedy fora de contexto e que está interpretando mal a história.

A maioria dos assessores civis e militares de Kennedy recomendou um ataque a Cuba depois que aviões-espiões U-2 descobriram a instalação de bases de mísseis soviéticos na ilha, disse McNamara.

McNamara propôs a "quarentena" para parar os navios soviéticos que estavam transportando as armas para Cuba. A crise terminou quando Moscou ordenou a retirada de seus mísseis.

"Chamamos de quarentena porque bloqueio é uma palavra de guerra, e o propósito da quarentena era exatamente o oposto", disse. "De maneira alguma estava claro que a quarentena adiaria a guerra. Mas não foi preventivo. Foi o contrário de prevenção".

Documentos liberados
Cuba, de governo comunista, mantém a posição de que permitiu que Khrushchev instalasse as bases de mísseis na ilha somente para propósitos defensivos, para deter as tentativas norte-americanas de derrubar o governo revolucionário de Castro.

"Nosso compromisso é contribuir para a verdade histórica", disse o vice-presidente de Cuba, Jose Ramon Fernandez, na cerimônia de abertura da conferência, organizada pelo governo cubano e pela organização sem fins lucrativos Arquivo Nacional de Segurança, de Washington.

Castro, 76, culpou parcialmente Khrushchev pela crise dos mísseis, em entrevista com Barbara Walters, da rede ABC.

O líder cubano, que está no poder desde 1959, disse que Khrushchev cometeu erros políticos ao instalar mísseis secretamente em Cuba.

"Ele enganou Kennedy. Essa foi sua principal...falha", disse Castro em entrevista que seria exibida na noite de hoje, no programa "20/20", da ABC.

Milhares de páginas de documentos liberados por Estados Unidos, Cuba e Rússia serão estudados na conferência, que terá uma visita a um antigo armazém de mísseis, em San Cristobal, na província de Pinar del Rio, oeste da ilha.

Um dos documentos liberados pelo Arquivo Nacional de Segurança é uma cronologia dos fatos em 54 páginas, preparada pela CIA para Kennedy.

Os documentos mostram que até agosto de 1962 as agências norte-americanas de inteligência estavam subestimando as intenções soviéticas de instalar armas nucleares em Cuba, numa falha de inteligência parecida com a que está sendo debatida nos Estados Unidos sobre os ataques com aviões sequestrados em 11 de setembro.


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