Reuters
17/10/2002 - 18h38

Matt Damon faz espião da CIA sem memória em "A Identidade Bourne"

da Reuters, em Hollywood

"A Identidade Bourne", estréia desta sexta-feira, é um thriller de primeira categoria que reúne espionagem internacional, intriga, garra e o pique de um filme independente.

Esta refilmagem da história de um romance de espionagem da Guerra Fria publicado há 23 anos por Robert Ludlum convence em dois níveis: como um relato do lado implacável da CIA que soa mais realista do que meramente cínico, e como retrato da personalidade de um matador da agência que perde a memória e, quando finalmente se dá conta de quem é, não gosta do que fica sabendo.

Matt Damon é o personagem-título, uma máquina de matar altamente treinada cujo corpo, na abertura dramática da história, é resgatado do Mediterrâneo por pescadores.

Salvo da morte quase certa, o rapaz tem duas balas nas costas e uma cápsula contendo o número de uma conta bancária na Suíça. Como ele não se lembra de quem é, onde vive ou o que faz, ele aceita uma ajuda do pescador que o salvou e parte para Zurique.

O que ele encontra guardado no banco suíço o deixa totalmente perplexo: vários passaportes - um dos quais é norte-americano e o identifica como sendo Jason Bourne -, uma arma e muito dinheiro vivo.

Ele pega tudo e vai até o consulado norte-americano, onde seguranças o atacam e ele escapa por pouco, pagando 10 mil dólares a uma "cigana" alemã descabelada mas atraente, Marie (Franka Potente, de "Corra, Lola, Corra") para que ela lhe dê carona até Paris.

Mas, embora Bourne não entenda por que o estão perseguindo, o público fica sabendo desde cedo. Em Langley, sede da CIA, o agente Ted Conklin (Chris Cooper), que chefia uma operação ultra-secreta, está furioso por Bourne não ter cumprido sua missão de assassinar um antigo líder africano que ameaça chantagear a agência.

Agora que Bourne reapareceu, ele avisa a todos: "Quero Bourne morto até o pôr-do-sol".

Assim, o filme vira uma perseguição implacável, uma caçada cheia de suspense, complicada pelo fato de a polícia francesa várias vezes chegar muito perto de deter Bourne. O espetáculo de um assassino da CIA sendo caçado por seus semelhantes cria uma dinâmica emocional de ambivalência quase assustadora.

Por um lado, o espectador quase automaticamente simpatiza com a figura central (especialmente quanto é alguém jovem e atraente, como Matt Damon); por outro, em nenhum momento o filme nos deixa esquecer que Bourne, antes de sofrer a amnésia, era um ``deles''.

Quando o agente sem memória abaixa a guarda com Marie, revelando a ela que não se recorda de nada, a alemã se anima a dar início a um romance. Mas essa parte da história se mantém digna de crédito porque não é exagerada: Marie é mantida na história, não mais do que isso, enquanto ela e Bourne decidem até onde querem levar a situação.

Outro elemento que ajuda o filme é a escolha para o papel de Marie de Franka Potente, que é sexy mas não bela da maneira convencional. Ela é calorosa, pé no chão e livre de trejeitos de atriz, além de ser despreocupada a ponto de conservar nos cabelos alguns traços da tintura ruiva que usou em "Corra, Lola, Corra".

O breve epílogo ensolarado ao final desanuvia a história de uma maneira não inteiramente plausível, mas não elimina, de maneira alguma, a consistência e coerência de um filme que faz um ótimo trabalho de representar o gênero dos filmes de espionagem a uma nova geração de espectadores.

 

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