Reuters
22/10/2002 - 08h59

"Piedras", em cartaz na Mostra, é obra-prima de novato espanhol

da Reuters, em Hollywood

O drama idiossincrático "Piedras", de Ramón Salazar, acrescenta o nome do diretor de 28 anos à lista de promissores cineastas espanhóis. O filme foi um dos destaques de segunda-feira na 26ª Mostra BR de Cinema, em São Paulo.

Belas atuações de um elenco escolhido a dedo, olhar terno e uma atenção obsessiva para os detalhes são algumas das marcas de um projeto que se distingue positivamente por começar com seus personagens e construir a história em torno deles.

O filme, cujo título fica sem explicação, traz as histórias de cinco mulheres madrilenas: Anita (Monica Cervero), que pinta retratos dela mesma na companhia de seu cãozinho; sua mãe Adela (Antonia San Juan), que dirige um bordel; a rica e nervosa Isabel (Angela Molina), que está passando por um divórcio e adora comprar sapatos; a frágil Leire (Najwa Nimri), vendedora de sapatos e dançarina de boate que está rompendo com seu namorado, e a sarcástica taxista Maricarmen (Vicky Pena), que se esforça para criar Victor (Santiago Crespo) e a viciada em cocaína Daniela (Lola Duenas), ambos filhos de seu namorado morto.

As histórias correm paralelamente, com breves pontos de contato ao estilo de "Short Cuts - Cenas da Vida" ou "Magnólia".

Adela emprega Joaquin (Enrique Alcides) para cuidar de Anita, de modo que possa ficar livre para ser seduzida pelo empresário argentino Leonardo (Rodolfo de Souza), que a ensina a dançar e lhe oferece uma visão de um mundo melhor. À sua própria maneira, Anita também se apaixona por Joaquin, provocando a fúria de sua mãe.

A apresentadora de TV Martina (Maria Casal), amiga de Isabela, lhe recomenda um pedicuro (o bailarino espanhol Nacho Duato), que se torna seu "terapeuta". A única personagem da história não envolvida em nenhum romance é a corajosa Maricarmen, cuja luta para tratar com Daniela é mostrada em detalhes às vezes dolorosos.

"Piedras" não tem nenhuma lição especial a transmitir exceto a de que não é fácil viver e ser feliz. Mas, a partir dessa premissa batida, o filme mostra, de maneira inteiramente contemporânea, que é possível passar uma mensagem séria de maneira brincalhona.

A mídia espanhola se apressou a traçar comparações com a obra de Almodóvar e, na medida em que o filme trata as mulheres com simpatia e sensibilidade, ela tem razão.

Mas o aura de melodrama que percorre os filmes de Almodóvar está ausente em "Piedras", assim como a tendência ao exagero.

As feministas se perguntam por que todas as personagens de Salazar precisam de um homem para serem felizes, mas o fato é que os homens em "Piedras", sejam eles homo ou heterossexuais, também precisam de parceiros para serem felizes. A participação pequena de Manuel de Blas no papel de Ramón, assistente de Adela, comprova essa tese.

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