Reuters
19/02/2003 - 15h03

Pastor de Ruanda e filho são condenados por genocídio

da Reuters, em Nairóbi (Quênia)

Um pastor de Ruanda e o filho dele foram condenados hoje a 10 e a 25 anos de prisão, respectivamente, por um tribunal da ONU (Organização das Nações Unidas) que os considerou culpados de terem contribuído para o massacre de membros da etnia tutsi.

Elizaphan Ntakirutimana e o filho Gerard foram acusados de terem reunido um grande número de homens, mulheres e crianças tutsis em uma igreja e em um hospital da região de Kibuye (oeste de Ruanda) em 1994 antes de chamarem hutus para matá-los.

O pastor, 78, da igreja Adventista do Sétimo Dia, foi considerado cúmplice no crime de genocídio, disse um porta-voz do Tribunal Internacional Criminal para Ruanda (ICTR), um órgão da ONU. Gerard, um médico de 45 anos, foi considerado culpado do mesmo crime e de genocídio.



"O pastor Ntakirutimana distanciou-se de seu rebanho tutsi no momento em que ele mais precisava dele", disse um dos juízes do caso, o norueguês Eric Mose, segundo a agência de notícias independente Hirondelle.

"Na qualidade de médico, (Gerard) tirou vidas ao invés de salvá-las."

Tanto pai quanto filho permaneceram impassíveis ao ouvirem suas sentenças, disse a Hirondelle.

O advogado de defesa do pastor, Ramsay Clarke, ex-secretário de Justiça dos EUA, afirmou que os réus apelariam das condenações, classificadas por ele de "um erro trágico da Justiça".

Estima-se que cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram assassinados em um espaço de cem dias em Ruanda no ano de 1994. Os crimes foram cometidos por extremistas hutus.

Ntakirutimana, que fugiu para o Texas (EUA) depois do genocídio, é o primeiro pastor julgado pelo ICTR. O acusado foi detido em território norte-americano em 1996 e enviado para o tribunal, instalado em Arusha, norte da Tanzânia, em 2000, depois de um processo judicial em torno de sua extradição.

O filho dele foi detido na Costa do Marfim em 1996.

Segundo grupos de defesa dos direitos humanos, vários líderes religiosos de várias denominações desempenharam papéis de destaque nos assassinatos, usando sua autoridade para encorajar o massacre de tutsis que tentaram se abrigar nos locais de culto.

Em Ruanda, hoje, várias igrejas transformaram-se em memoriais para os mortos. Ossos acumulam-se no chão hoje empoeirado dessas construções. Crânios, pernas e braços formam grandes pilhas para lembrar os horrores do ódio racial.
 

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