Reuters
07/09/2001 - 07h35

"O Lixo e a Fúria" é relato dos próprios Sex Pistols

da Reuters

Depois de ser exibido no ano passado na 24ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário "O Lixo e a Fúria", um relato dos próprios integrantes do Sex Pistols sobre o surgimento, ascensão e queda de um dos maiores mitos do movimento punk, volta às telas brasileiras nesta sexta-feira.

O diretor inglês Julien Temple, que acompanhou de perto a curta trajetória dos Pistols de 1976 a 1978, reuniu imagens de shows e entrevistas dadas pelo grupo na época, além de depoimentos polêmicos e atuais de Johnny Rotten (vocal), Glen Matlock (ex-baixo), Steve Jones (guitarra) e Paul Cook (bateria).

Mixado com cenas hilariantes de "Ricardo III", uma produção de Laurence Olivier para a TV britânica, "O Lixo e a Fúria" recria o cenário inglês que abriu espaço para a disseminação do movimento punk.

Temple obriga o espectador - muitas vezes acostumado a canonizar a banda - a lembrar quão chocantes, sujos e agressivos eram os Pistols.

Não porque eles realmente tivessem a intenção de mudar o mundo, mas porque não tinham respeito e auto-estima. O filme dá a entender que eles simplesmente não ligavam para nada, embora o descontentamento político fosse um elemento-pivô em sua música.

O diretor também mostra as constantes discórdias entre Rotten e o empresário Malcom McLaren, que, embora se considerasse o gênio que "criou" os Pistols, nunca quis incitar a revolta popular através da cultura pop, mas ganhar dinheiro com a imagem da banda e as roupas criadas por Vivienne Westwood.

Felizmente, Temple não credita mais do que o tempo necessário para Sid Vicious, que nunca tinha tocado baixo, entrou para a banda para substituir Glen Matlock e acabou se tornando ícone da juventude punk ao morrer de overdose de heroína em 1978.

Mas "O Lixo e a Fúria" também fascina ao retratar um movimento punk cheio de contradições. Os piercings, as roupas rasgadas, a falta de banho e os cabelos moicanos acabaram se tornando um modismo, e Temple faz questão de mostrar os Pistols numa obra antidrogas, para surpresa de muitos.

Talvez um dos grandes méritos de "O Lixo e a Fúria" seja mostrar que os Pistols não criaram o punk, mas apenas se destacaram em um cenário que já contava com nomes como Clash, Siouxie e Ramones.

"Não éramos uma conspiração da classe média ou um movimento intelectual orquestrado por McLaren. Apenas estávamos sendo nós mesmos. As pessoas não gostam de encarar o fato de que éramos apenas um grupo de garotos querendo se divertir", disse Rotten.
 

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