Reuters
05/11/2001 - 19h23

Mito que virgem evita Aids estimula estupro de criança na África

da Reuters, em Johannesburgo

A África do Sul está em choque com o aumento dos casos de estupro de crianças e até mesmo de bebês, incentivados pelo mito de que o sexo com virgens protege o homem contra a Aids, disseram ativistas na segunda-feira.

Hoje, seis homens foram a julgamento na corte da cidade de Upington, ao norte da Cidade do Cabo, sob a acusação de estupro de uma menina de 9 meses de idade. Do lado de fora do tribunal, cerca de 3.000 pessoas exigiam o restabelecimento da pena de morte para os suspeitos.

Três dias antes de o bebê ser atacado na semana passada, uma menina de 3 anos foi estuprada, supostamente por seu avô. Na mesma semana, um bebê de 14 meses foi atacado por dois tios.

"A África do Sul atingiu um novo (nível) baixo ... Este é um caso entre muitos", disse Kelly Hatfield, diretora de um grupo chamado People Opposed to Women Abuse (Powa).

"Muito disso está relacionado ao mito de que um homem será curado de Aids ao praticar sexo com uma virgem e o que pode ser mais virginal que um bebê?"

Em vez de diminuir com as informações crescentes sobre a doença, o mito conservou-se na sociedade sul-africana, disse ela. O país já possui a maior incidência de estupro do mundo.

As estatísticas revelam que 21 mil casos de estupro de crianças foram relatados no ano passado. A maioria foi cometida por parentes do sexo masculino das vítimas.

Com um em nove sul-africanos vivendo com HIV/Aids, o estupro normalmente é uma sentença de morte para a vítima, disse Glenys van Halter, do grupo South Africa Child Abuse.

Acredita-se que um dos agressores do bebê de 9 meses esteja com o vírus, disse Van Halter, que visitou a família da vítima.

Van Halter afirmou que o mito da Aids está contribuindo para o aumento no abuso de crianças, mas que o desemprego, a pobreza e o alcoolismo também têm um papel importante.

Hatfield afirmou que a esperança do país é sua constituição pós-apartheid, considerada uma das mais liberais do mundo, e suas cortes. Ela pediu aos tribunais para determinar sentenças rígidas aos agressores.
 

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