Reuters
27/04/2001 - 20h57

Revista se retrata por estudo fraudulento sobre câncer

da Reuters, em Washington

Uma prestigiada revista médica norte-americana informou esta semana que tomou a decisão, sem precedentes, de fazer a retratação de um estudo sobre câncer de mama depois que uma investigação descobriu que o pesquisador sul-africano falsificou os resultados.

O Journal of Clinical Oncology informou que desmentiu o estudo sobre mulheres com câncer de mama em estágio avançado _que se mostrava promissor em 1995_ depois que uma auditoria descobriu que o pesquisador sul-africano, Werner Bezwoda, falsificou a maioria dos dados.

"Bezwoda enganou a todos nós", disse Larry Norton, presidente eleito da American Society of Clinical Oncology (Asco), por telefone. O grupo publica o Journal of Clinical Oncology.

A revista informou que estava retratando-se pelo o artigo para garantir que o trabalho não fosse referido ou citado como uma pesquisa legítima na literatura médica futura.

Foi a primeira vez em 18 anos de história da publicação que foi necessário desmentir um artigo, disse o grupo.

O estudo desacreditado informava que mulheres cujo câncer havia se espalhado para além da mama teriam benefícios significativos se a quimioterapia fosse acompanhada de transplante de medula óssea.

"Muitos oncologistas aceitaram os resultados como válidos, levando a um aumento do número de pacientes tratadas com altas doses de quimioterapia", informou a auditoria.

A Asco declarou que as mulheres só devem receber altas doses de quimioterapia, seguidas de transplante de medula óssea para metástase de câncer de mama, em testes clínicos de alta qualidade. O grupo médico iniciou a investigação depois que um estudo semelhante ao feito por Bezwoda em 1999 foi desacreditado.

Bezwoda admitiu fraude científica no estudo de 1999 e foi demitido pela Universidade de Johanesburgo, em Witwatersrand. Segundo Raymond Weiss, professor da Universidade de Georgetown e chefe da equipe de investigação, Bezwoda é um médico particular, agora.

O estudo de 1995 informou que mulheres que recebiam altas doses de quimioterapia tinham uma taxa de resposta de 95%, comparadas a 53% das mulheres que receberam tratamento com dose convencional.

Os auditores conseguiram localizar registros de apenas 61 das 90 pacientes do teste clínico e muitas não receberam o tratamento descrito no estudo publicado, informou Weiss.

O estudo de Bezwoda afirmava que nenhuma paciente havia morrido durante o estudo como resultado do tratamento, mas os auditores descobriram pelo menos três possíveis mortes relacionadas ao tratamento.

Bezwoda também informou erroneamente que recebeu a aprovação do conselho de revisão de sua universidade. O pesquisador não conseguiu obter consentimentos assinados de suas pacientes, disse Weiss.

Segundo Weiss, a auditoria também descobriu declarações falsas em outras oito publicações escritas por Bezwoda.

Em maio de 2000, a Asco estabeleceu uma força-tarefa para supervisionar pesquisas clínicas mas, segundo Norton, "as fraudes não podem ser totalmente eliminadas".
 

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