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16/12/2003 - 03h04

Genealogia, uma doença interminável

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
especial para a Folha de S.Paulo

Uma definição corrente entre aficionados diz que a genealogia é uma doença incurável. O texto, que de tão copiado já perdeu a autoria, diz que, contraído o vírus da pesquisa, dificilmente a vítima consegue se livrar da mania de vasculhar arquivos empoeirados, de espremer os olhos para decifrar microfilmes, de entrevistar parentes distantes e desconhecidos em busca de datas, nomes e locais. O sintoma definitivo que leva ao diagnóstico da "genealogite" é quando o paciente, após passar horas absorto em leituras de uma caligrafia ilegível, sai a gritar sozinho: "Achei! Achei!".

Invariavelmente, o contágio se dá pela curiosidade. O genealogista amador quer saber quem foram seus bisavôs e, depois, quem foram os pais deles. Aí ele já estará contaminado e vai querer descobrir quem foram os avós dos tataravôs, e assim, indefinidamente, em escala exponencial. Basta imaginar que, se há apenas quatro avós, dois paternos e dois maternos, ao se recuar para a décima geração ascendente, os antepassados chegam a 512, e na vigésima geração esse número chega, teoricamente, a 524.288 avós.

A cifra, é óbvio, não se confirma na prática. Caso contrário, em vez de um Adão e de uma Eva, haveria zilhões deles. É que há, em qualquer família, muitos casamentos consanguíneos, que acabam levando a um mesmo tronco, a um mesmo casal original. Assim, algumas dezenas de pioneiros e outras tantas índias deram origem a milhões de paulistas, mineiros, goianos, mato-grossenses e paranaenses dos dias de hoje.

As motivações para a pesquisa genealógica vão desde a busca de um antepassado estrangeiro que garanta acesso a outra cidadania até as veleidades de descobrir um ancestral da nobreza que lhe permita ostentar um brasão de família. No meu caso, o interesse é histórico. A história da família é um ótimo roteiro para compreender o processo de colonização brasileiro, os hábitos e costumes de cada época, os processos de transmissão de herança, os avanços da fronteira agrícola, a demografia histórica.

A despeito de minha árvore genealógica ter 4.321 nomes pendurados, estou longe de parar. Cada descoberta abre novas possibilidades de pesquisa e desperta outros interesses. Sem contar a irresistível vontade de sair gritando "Achei! Achei!".

José Roberto de Toledo, 37, é jornalista. Foi contaminado pelo vírus da genealogia há seis anos e apresenta sintomas cada vez mais graves da "doença".

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