Folha Online 5 Sentidos
5 sentidos
30/04/2003

Garçons cegos servem não-cegos no escuro

DAYANNE MIKEVIS
DA EQUIPE DE TRAINEES

Você se sentiria seguro ao ser conduzido por um cego na rua? E num restaurante? Se a sua opção for o BlindeKuh, na Suíça, ou o Unsicht-Bar, na Alemanha, é provável que sim.

O primeiro surgiu em Zurique, por iniciativa de um pastor protestante, Joerg Spielman. Cego, Spielman queria abolir preconceitos sobre deficientes visuais ao criar um ambiente no qual houvesse uma igualdade de condições entre eles e os frequentadores que enxergam.

O nome do restaurante, BlindeKuh, faz referência à brincadeira de cabra-cega, que ganha o nome de vaca-cega na Suíça.

Ao entrar, o cliente tem os olhos vendados. Para encontrar a mesa, precisa do apoio de um garçom, cego. Para evitar trombadas, os funcionários levam sininhos nos calcanhares.

O Unsicht-Bar, um jogo de palavras com as palavras invisível (unsichtbar) e bar, nasceu em Colônia, Alemanha, e fez tanto sucesso que inaugurou, em setembro de 2002, uma filial na capital, Berlim. A iniciativa é de uma associação para pessoas com deficiência visual parcial ou absoluta, a AfSB.

No Blindekuh o menu é oral, recitado por garçons que memorizam os pedidos. Já no Unsicht-Bar, o cliente tem de adivinhar o prato que comeu.

Nem tudo é feito às cegas. Em seu site, o Unsicht-Bar deixa claro que o banheiro não fica totalmente no escuro como o resto da casa, por questões de praticidade. Nas cozinhas, os chefs não são deficientes visuais completos.

TV às escuras

Na França, a idéia de jantares no escuro foi parar na televisão. O canal 5 apresentou, em 2001, um programa de debates intitulado "Le Gôut du Noir" (O Gosto do Escuro). A apresentadora era Sophie Massieu, 28, que é jornalista e nasceu cega.

A transmissão ia ao ar graças a um equipamento que captava as imagens no escuro. Em 2002, o programa deixou de existir por falta de renovação do contrato com a produtora, que afirma ter conseguido alcançar a meta de audiência esperada.

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