Folha Online 5 Sentidos
5 sentidos
30/04/2003

Ver de novo

Pessoas que ficaram cegas podem voltar a enxergar com a ajuda de chips que transformam sinais de luz em impulso nervoso. Implantes experimentais já estão sendo feitos

RÔMULO NEVES
DA EQUIPE DE TRAINEES

A cegueira causada pela degeneração da retina começa a ser revertida com chips microscópicos.

Há duas linhas de pesquisa: uma lida com o implante de um chip de dois milímetros de diâmetro na retina; a outra utiliza um aparato maior, com óculos dotados de microcâmeras que transmitem o sinal para um computador e, depois, diretamente para um chip acoplado ao córtex.

A pesquisa mais adiantada é a da companhia americana Optobionics, que desenvolveu um chip chamado Retina Artificial de Silicone (veja quadro abaixo).

Já foram realizadas dez cirurgias em que o chip é colocado na superfície da retina, no fundo do olho. O dispositivo funciona com a energia da luz recebida do próprio ambiente, o que torna o processo ágil e prático.

O sinal luminoso, convertido em impulso nervoso, é enviado ao nervo ótico e pode ser compreendido pelos receptores do cérebro que um dia já enxergou e, portanto, já foi treinado para percebê-los e decodificá-los.

O implante não poderá ser realizado em pacientes que ficaram cegos por causa de glaucoma, pois nesse caso o nervo ótico é afetado.

A situação dos pacientes e os resultados das cirurgias experimentais, que foram autorizadas pela FDA (agência norte-americana de controle de alimentos e medicamentos), serão anunciados em maio pela companhia, que pretende obter a autorização do órgão para realizar as operações comercialmente.

Segundo Alan Chow, diretor da Optobionics, o chip não conseguirá devolver uma visão perfeita, mas dará ao paciente a capacidade de reconhecer rostos e se locomover com segurança. Outros especialistas, como Christof Koch, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, consideram que, mesmo que os chips consigam dar ao paciente apenas a capacidade de reconhecer contraste (diferença entre campos escuros e iluminados), já será um avanço.

A Nasa (agência norte-americana de assuntos aeroespaciais), numa pesquisa conjunta com a Universidade Stanford, também desenvolve um chip para implante na superfície da retina, mas ainda não divulgou a realização de nenhuma cirurgia utilizando a nova tecnologia.

Outros grupos, como o do centro de oftalmologia da Universidade da Califórnia e o do laborátorio formado pela parceria entre a Universidade Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), também estão investindo em pesquisas nessa direção.

Microcâmeras

Um grupo de pesquisadores da escola de medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos, publicou um trabalho dando os detalhes de outra forma possível de utilização de chip, que não envolve o nervo ótico, e sim câmeras externas.

O sinal é enviado diretamente de microcâmeras instaladas em óculos especiais para um processador acoplado à cintura do usuário. Daí, o sinal é enviado para um chip implantado no cérebro, na área responsável pela visão. As câmeras se movimentam de acordo com os movimentos dos olhos. Nenhuma cirurgia,porém foi realizada pelo grupo.

Por outro lado, o pesquisador William Dobelle, do Instituto Dobelle, com sedes em Nova York e Lisboa, anunciou que já realizou esse tipo de implante, mas ainda não divulgou os resultados das cirurgias em nenhuma publicação especializada.

Essa tecnologia tem a desvantagem de ter partes externas, o que dificulta a higiene e a segurança dos dispositivos .

Como a tecnologia ajuda a ver novamente

Como a tecnologia ajuda a ver novamente

Anterior | Próximo | Índice

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).