Folha Online 5 Sentidos
5 sentidos
30/04/2003

Gosto brasileiro

Língua eletrônica desenvolvida pela Embrapa é melhor modelo do gênero e pode mudar o controle de qualidade de bebidas e fiscalizar resíduos tóxicos no meio ambiente

MARCUS VINICIUS MARINHO
DA EQUIPE DE TRAINEES

Imagine um aparelho eletrônico que pode sentir gosto da mesma forma que os seres humanos, mas de 1.000 a 10.000 vezes elhor. Conhecida como a "língua eletrônica", a inovação já está ajudando as indústrias de vinho e café. Com um detalhe: o melhor modelo do gênero é brasileiro.

Apesar de haver outras versões de língua eletrônica no mundo, algumas até comercializadas, o aparelho nacional, desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de São Carlos (230 km de São Paulo) é o que tem maior sensibilidade e velocidade de percepção

. A língua brasileira tem capacidade 30 mil vezes maior que a do melhor modelo estrangeiro para diferenciar, por exemplo, sal e açúcar dissolvidos em água. Numa aproximação grosseira, a estrangeira consegue identificar uma concha de açúcar e uma colher de sopa de sal dissolvidas numa garrafa, enquanto a brasileira é capaz de separar a mesma quantidade das substâncias dissolvidas numa piscina com 17 mil litros.

O equivalente eletrônico da língua humana não é implantável em pessoas, mas, além de ser um aliado para atestar a qualidade na indústria de alimentos e bebidas, também pode auxiliar no controle ambiental, analisando a contaminação dos recursos hídricos.

"A idéia nasceu justamente de um sensor que a Embrapa tinha para pesticidas", afirma Luiz Henrique Capparelli Mattoso, 42, o coordenador do projeto. "Há menos de dez grupos de pesquisa que trabalham com "línguas" no mundo, mas a nossa técnica é a que vem apresentando melhores resultados", diz Antonio Riul Júnior, 34, um dos cientistas envolvidos. O projeto já foi destaque da revista "Nature" e do canal de TV "Discovery Channel".

Os sensores do aparelho são placas de ouro cobertas por uma camada de um plástico condutor, 50 mil vezes mais fina que um fio de cabelo. O dispositivo foi construído em colaboração com Alan MacDiarmid, da Universidade da Pensilvânia, vencedor do Nobel de Química de 2000 com sua pesquisa sobre polímeros que conduzem eletricidade.

A equipe trabalha agora para automatizar todo o processo e reduzir o aparelho a uma maleta portátil, simples de transportar.

Café e vinho

A língua já vem sendo utilizada na análise e na classificação de café e vinho, em parcerias estabelecidas entre a equipe de Mattoso e a Abic (Associação Brasileira da Indústria do Café) e a ABS (Associação Brasileira de Sommeliers).

No caso do café, por exemplo, a máquina já consegue distinguir com precisão os três tipos da bebida, gourmet (melhor qualidade), superior (intermediário) e tradicional (regular).

"O equipamento é uma ferramenta poderosa para auxiliar na avaliação de bebidas de qualidade", acredita Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic.

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