Folha Online 5 Sentidos
5 sentidos
30/04/2003

Fim do silêncio

Conquistas no tratamento da surdez melhoram a vida de quem tem problemas auditivos; implantes feitos a partir de um ano de idade permitem desenvolvimento normal de bebês nascidos surdos

MARCOS CÔRTES
DA EQUIPE DE TRAINEES

O desenvolvimento de aparelhos de audição menores e mais precisos, a ampliação do público-alvo dessas próteses e os implantes cocleares em crianças a partir de um ano são as mais recentes conquistas no tratamento da surdez no Brasil.

O Hospital das Clínicas e o de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, o Centrinho, têm obtido bons resultados com os implantes cocleares.

No Centrinho, localizado em Bauru (SP), de cada 10 pessoas que fazem a cirurgia, 7 conseguem voltar a falar ao telefone. O hospital foi responsável por 60% dos implantes realizados pelo SUS em 2002.

Os especialistas ressaltam que esse tipo de cirurgia é indicado apenas para quem tem surdez profunda (leia quadro à direita).

Desde o ano passado, o Centrinho faz o implante coclear em crianças a partir de um ano. "Os melhores resultados desse tratamento ocorrem em crianças de até três anos, que aprendem a falar normalmente e têm o tempo de tratamento reduzido", diz Maria Cecília Bevilacqua, coordenadora do programa de implante coclear do Centrinho.

Até o final de maio, o hospital tinha operado 18 crianças entre um e dois anos. Segundo Bevilacqua, a redução da faixa etária para fins de implante ocorreu graças à evolução dos diagnósticos e da tecnologia dos aparelhos.

Em 1990, o Centrinho se tornou o primeiro hospital do SUS a fazer um implante coclear de alta tecnologia. Foi utilizado um aparelho auditivo multicanal que permitia o reconhecimento de voz, algo inovador na época. Até então, os equipamentos possibilitavam apenas escutar ruídos, como os produzidos por uma buzina.

As próteses usadas atualmente são ainda mais finas, gastam menos bateria e permitem que o fonoaudiólogo tenha mais possibilidades de ajustar o aparelho de audição de acordo com as necessidades do paciente.

Estimulação

Uma pesquisa do Hospital das Clínicas é a esperança para quem tem surdez severa e não pode fazer o implante nem tem bom resultado com aparelho auditivo.

Trata-se da estimulação coclear mista, que consiste no implante de um eletrodo no início da cóclea, para estimular os sons agudos, e um aparelho externo de amplificação sonora, com o objetivo de estimular os sons graves.

Os pesquisadores estão fazendo testes em cobaias. Até o final do ano, pretendem começar as primeiras tentativas em humanos. "Precisamos saber antes se o eletrodo não lesa toda a cóclea", diz o otorrino Ricardo Bento, chefe do grupo de ouvido e surdez do HC.

Qualidade sonora

Disponíveis apenas na rede privada, as próteses auditivas implantáveis são uma opção para quem precisa usar um aparelho individual, mas quer alta fidelidade de som e discrição.

A prótese é composta por uma bobina eletrônica, colocada cirurgicamente na cadeia ossicular do ouvido (próxima ao início da cóclea), e uma unidade externa, onde fica a bateria.

Incluindo a cirurgia, o custo do implante em clínicas particulares chega a R$ 40 mil. O preço de um aparelho auditivo tradicional varia de R$ 1,5 mil a R$ 7 mil.

Para ouvir em alto e bom som

Para ouvir em alto e bom som Colaborou Vinícius Galvão

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