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Educação
24/06/2005

Diretora usa criatividade para reduzir abandono em 65%

MARCELA CAMPOS
Da equipe de trainees

Leonardo Wen/Folha Imagem
Sala de matemática da escola Francisco Cristiano Lima de Freitas, em São Bernardo do Campo (SP)
Sala de matemática da escola Francisco Cristiano Lima de Freitas, em São Bernardo do Campo (SP)
Nem tudo são flores no Jardim das Orquídeas, bairro a dez quilômetros do centro de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), onde a Escola Estadual Francisco Cristiano Lima de Freitas está instalada.

Mais de um terço dos pais de alunos estão desempregados e 60 famílias têm cadastro em programas sociais do governo. Na vizinhança, um depósito de lixo desativado deixou sem ganha-pão dezenas de catadores, muitos deles pais de alunos.

O cenário desanimador não impediu a escola de ser a única representante paulista entre as seis finalistas da edição 2003 do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação, União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação, Unesco e Fundação Roberto Marinho. A Francisco Cristiano foi selecionada entre 110 escolas paulistas e 2.190 de todo o país.

A diretora Sônia Maria dos Santos, 38, subtraiu gastos, multiplicou parcerias, dividiu tarefas e o resultado foi a queda de até 65% na taxa de evasão. Em 2002, quando assumiu a direção, o abandono no ensino médio atingia 10,5% dos alunos e a escola não tinha biblioteca. Dois anos depois, a taxa caiu para 3,7% e os alunos têm a disposição 10 mil livros. Doze dos 24 estudantes voluntários na instituição auxiliam a bibliotecária. Os demais vigiam colegas menores e ajudam nos serviços gerais.

Outro diferencial da escola são as salas-ambientes, equipadas e decoradas de acordo com a matéria. Na Francisco Cristiano, quem troca de sala são os alunos e não os professores. Depois da resistência inicial, a iniciativa é apoiada por 97% dos 1.890 alunos.

Na entrada, notas fiscais de compras da escola estão expostas, provando que o dinheiro é curto. A falta de verba é contornada com parcerias: o mercadinho doa café, a floricultura toma conta do jardim, a papelaria cede material de escritório. Em troca, as lojas anunciam nos muros da escola. Essas mudanças refletem-se no aprendizado: a nota da Francisco Cristiano em redação no Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) no ano de 2003 foi 27% superior à média estadual.

O aluno da 8ª série João Paulo Simon, 14, começou como voluntário na biblioteca por obrigação. Ele pichou "JP" a caneta no banheiro masculino e foi descoberto. A direção chamou o pai, Luís Carlos Simon, 36, que perguntou ao filho: "Você prefere apanhar de cinta ou limpar o banheiro?". O pai não estava satisfeito com a punição e colocou o menino como "voluntário" para pagar a tinta.

João Paulo, que quase foi para o Conselho Tutelar por indisciplina, trabalhou um mês na biblioteca. O castigo terminou, mas ele quer continuar ajudando nos serviços gerais. As notas do jovem, que sonha ser mecânico, ainda não melhoraram, mas o comportamento, sim. "Ele está mais contente e não preciso mais mandar ele fazer as obrigações", diz o pai.
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