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Educação
24/06/2005

Íntegra de entrevista: Marcelo Coelho

Marcelo Coelho tem 46 anos é professor, escritor e membro do Conselho Editorial da Folha. Cursou o primário no Dante e o ginásio no Santa Cruz. É formado em Ciências Sociais pela USP. Tem dois filhos, um de três e outro de um ano e não pretende colocá-los na escola pública.

Quais são os principais problemas da escola pública hoje?

É a precariedade do ensino.

Se diz que antigamente a escola pública era boa, mas muito pouca gente fazia o colegial e o ginásio. Então você tinha tão pouca gente, que aquilo que tinha você até conseguia dar uma qualidade de ensino melhor. Então aumentou muito, digamos, a cobertura de tudo isso. Em vinte anos você tem que fazer tamanha abrangência, um guarda-chuva tão grande pra demanda que surge, que decertto modo é natural que você não consiga que ela seja tão boa sendo também generalizada.

O que eu vejo também é o seguinte. Aí é uma percepção muito elitista, mas a cozinheira e a empregada da casa dos meus pais, ou seja, em 1969, nenhuma das duas sabia ler. A empregada que eu tenho hoje é uma senhora de 50 anos que escreve mal, que lê mal uma receita de bolo. A filha dela, que já nasceu em SP, fez colegial completo, você vê que a caligrafia da pessoa é outra, e ela está tentando fazer uma faculdade, dessas faculdades que você entra com facilidade, sem seleção. Então eu acho que de maneira geral, se você for pensar em décadas, a cada geração é um salto considerável. O que não impede de você ver verdadeiras barbaridades acontecendo, de você ver alguém com 14 anos que não sabe escrever nada. você não sabe também o que a pessoa fez na escola durante dez anos. São impressões completamente subjetivas, conversa de dono de casa.

As coisas não se resumem na simples qualidade de informação que se passa nesses colégios [particulares], ou que tal colégio privilegia a leitura ou os bons resultados no vestibular. Não só isso importa em uma educação, mas eu acho que é a tal da cidadania. O aluno entra em um colegial elitizado, ele não tem uma noção clara do que é ser cidadão brasileiro. O cara tem a noção de ser consumidor de uma escola. Ele não está tendo em nunhum momento uma situação em que ele é um igual ao sujeito que não tem o dinheiro que ele tem. Uma sensação de igualdade vivida é uma coisa que essas escolas não oferecem. você sai falando em cidadania “pô, cidadania é legal, seja bonzinho com seu faxineiro”, mas você não tem um momento em que se você fez bagunça na escola e outro cara de condição inferior também fez, a lei vale para os dois. Não é socialismo nem igualdade, isso é cidadania. E éssa situação de cidadania você tem só num convívio continuado sob a égide de uma mesma lei. Não adianta você fazer cursinho, palestra de cidadania, você não tem a experiência real do que é a cidadania. Eu falo isso por mim, que não tenho experiência nenhuma dessas. O meu histórico é tão elitizado quanto o de qualquer um, mas dá pra você ver que esse blá-blá-blá de cidadania nesses termos é muito diferente de uma coisa real que você possa experimentar. Isso é muito raro aqui. Se o cara não passa de ano, vai para um colégio mais fácil.

Então um dos pontos positivos da escola pública seria que ela proporciona esta experiência de cidadania?

É mais um ponto negativo da escola particular...

É que nós estamos pegando mais o viés da escola pública...

Ah, sim, acho que uma escola pública que tivesse qualidade boa poderia ser uma escola de cidadania. À medida que o aluno, de classe média, alta ou seja lá que classe for, teria também a experiência de ser cidadão.

(...) Na França, aqueles liceus onde os caras estudavam eram os melhores liceus e eram públicos também, todo mundo aprendia igual (...)

Existe algum modelo internacional que pudesse ser adaptado ao Brasil?

Ah, não tenho idéia como isso funciona, o quanto isso exige de investimentos, capacitação de professor. (...)

No curto prazo você acha que a educação no Brasil não tem solução?

Não sou especialista, não posso fazer um diagnóstico...
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