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Educação
24/06/2005

Projeto dobra alfabetização na Chapada Diamantina

RODRIGO NITRINI
Da equipe de trainees

Leo Drumond /Equipe de trainees
A professora Cybele Amado, 38, em sua casa; ao fundo, a Serra do Capão (BA)
A professora Cybele Amado, 38, em sua casa; ao fundo, a Serra do Capão (BA)
"Análise e reflexão da prática pedagógica." Os termos do projeto soam muito teóricos, mas o conceito que mudou o ensino público fundamental em 12 municípios da Chapada Diamantina (BA) é simples: promover reuniões periódicas entre os professores da rede de ensino para, com acompanhamento constante, discutir maneiras mais interessantes e eficientes de dar aula.

O projeto-piloto começou em 1997 no município de Palmeiras e, em dois anos, a evasão escolar caiu 70% e a repetência, 80%. Quando expandiu-se para 12 municípios, de 2000 a 2004, sob o nome de Projeto Chapada, aumentou a alfabetização ao fim da primeira série de 33% para 77,6%. Hoje, 30 cidades são atendidas.

Leo Drumond /Equipe de trainees
Cartaz com letra de música na escola municipal Afrânio Ferreira, em Lençóis (BA)
Cartaz com letra de música na escola municipal Afrânio Ferreira, em Lençóis (BA)
A iniciativa começou quando Cybele Amado, 38, professora de português do ensino fundamental de Palmeiras (a 453 km de Salvador), resolveu enfrentar as dificuldades que as crianças da zona rural tinham em leitura e escrita. "Os professores de cada escola trabalhavam isolados, não conversavam e não reviam suas práticas. E o conteúdo das aulas não fazia sentido nenhum", conta.

Com apoio da Secretaria da Educação do município, Cybele conseguiu que os professores de primeira à quarta série se reunissem uma vez por mês em uma pousada. O programa Crer para Ver, da Fundação Abrinq e da empresa Natura, resolveu investir na iniciativa, com cursos de formação, feitos em São Paulo, para Cybele e outros professores.

Nos encontros, eles discutiam práticas da sala de aula. "Em matemática, passamos a deixar as crianças resolverem os exercícios em dupla ou em grupo e exporem seu raciocínio. Antes, os alunos só copiavam". Outra prioridade foi misturar jogos e redações.

Após dois anos, em 1999, o final da primeira etapa do projeto foi celebrado com a realização da 1ª Feira de Educação de Palmeiras. Foram expostos trabalhos de professores e alunos: livros de histórias, experiências de ciências e palestras de convidados. "Muitos dos pais que iam à feira eram analfabetos e vinham contar como estavam emocionados pelos filhos", relata Cybele.

Com a feira, o projeto adquiriu visibilidade e outros municípios quiseram participar. O programa Crer para Ver resolveu patrocinar sua ampliação para outras 11 cidades, entre 2000 e 2004.

A partir daí, a estratégia passou a ser capacitar, em reuniões mensais, coordenadores pedagógicos municipais que, em seguida, promoveriam a formação dos professores locais. Criou-se também um sistema unificado de avaliação periódica, a cada três meses. Cerca de 28 mil alunos e 2.000 professores participaram.

Segundo Cybele, em 2000, 33% das crianças terminavam a primeira série alfabetizadas. Em 2004, a taxa passou para 77,6%.

Patrícia Lacerda, 42, consultora de projetos sociais, foi contratada pelo programa Crer para Ver para avaliar os resultados do projeto em 2004. "O que se conseguiu lá foi uma mudança de mentalidade. O aporte financeiro inicial foi importante, mas o grande feito foi conseguir que o acompanhamento da educação se tornasse cotidiano em uma região em que as pessoas costumavam se perguntar ‘para quê ler?’", diz.

O projeto chegou a provocar reações na campanha eleitoral de 2004. Houve um fórum regional sobre o projeto e os candidatos a prefeito dos 12 municípios assinaram publicamente um compromisso de dar continuidade a ele.

Neste ano, o projeto expandiu-se para 30 municípios. Um economista foi contratado para formar os gestores públicos. "Os secretários reclamavam que tinham dificuldades em montar um conselho da criança e do adolescente, captar recursos externos, montar consórcios", diz Cybele.

Os resultados coletivos do projeto são uma conquista pessoal para Cybele. "Quando tinha sete anos, minha professora disse que eu não aprenderia a ler e a escrever. Aquilo me deixou com muita raiva. Tinha dislexia leve. Desde então, não acredito que criança não pode aprender. Os problemas vêm das práticas, não do aluno."

Colaborou Leo Drumond
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