24/06/2005

Troca de Mundos

FREDERICO KLING E RODRIGO NITRINI
Da equipe de trainees

Leo Drumond/Equipe de trainees

Sara Alves, 13, estudante de escola municipal, assiste a aula no Palmares, cuja sétima série custa R$ 1.276 por mês

Leonardo Wen/Equipe de trainees

Felipe Zaidan, 13, em aula na escola municipal Olavo Pezzotti, a cinco quadras do colégio Palmares, onde estuda

A pedido da Folha, dois alunos de sétima série de São Paulo cruzaram o muro que separa a rede pública de ensino da elite dos colégios privados. Durante um dia, eles trocaram de carteiras.

Felipe Zaidan, 13, estuda na sétima série do Colégio Palmares, uma escola de classe média alta no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Sara Cristina Alves, 13, é aluna da mesma série da escola municipal Olavo Pezzotti, a cinco quadras de distância do Palmares. A convite da Folha, eles trocaram de carteiras e assistiram por uma manhã às aulas da outra escola.

As escolas

O Colégio Palmares (mensalidade de 5ª a 8ª série de R$ 1.276,00) está, segundo o Datafolha, entre as 16 escolas da cidade que mais aprovam nos cursos mais disputados da USP. Com uma área útil de 6.500 m2 e instalado em um prédio principal de dois andares, tem 1.200 alunos de pré-escola a ensino médio. Possui uma quadra coberta, ar-condicionado em todas as salas, cantina, padaria, laboratório de química e de informática, com 44 computadores e 22 laptops --uma máquina para cada um ou dois alunos, dependendo do tamanho da turma.

A escola municipal Olavo Pezzotti, com 3.000 m2, tem cerca de 800 alunos de primeira à oitava série, instalados num prédio de dois andares. Um espaço ao ar livre com dois gols e duas cestas improvisam a quadra esportiva. Há pichações dentro da escola e a merenda, gratuita, é feita em uma cozinha na própria escola. O laboratório de informática é equipado com 22 computadores; uma máquina para cada dupla de alunos. Segundo a diretora, Maria Domingues, a escola costuma acolher os filhos de empregadas domésticas e de porteiros da região, além de crianças que moram em abrigos situados na região.

Os alunos

Sara mora no prédio em que seu pai é zelador. No apartamento de dois quartos, vivem também quatro irmãs e a madrasta. À tarde, leva sua irmã de oito anos para a escola e, até chegar a hora de buscá-la, fica em casa estudando e assistindo à televisão. Já pensou em ser "várias coisas", de médica a analista de crédito (profissão da madrasta), mas ainda não tomou nenhuma decisão. Gosta de ler a revista adolescente "Capricho".

Felipe mora com sua família em um apartamento de quatro quartos em Perdizes. Seu pai é engenheiro, a mãe, dona-de-casa, e o irmão mais novo também estuda no Palmares. Faz caratê, inglês, natação e, quando tem tempo livre, gosta de assistir à televisão. Lê os livros do colégio e, de manhã, lê o jornal --Felipe quer ser jornalista e, aos nove anos, fez uma publicação com colegas do prédio onde morava anteriormente.

Felipe pisava pela primeira vez em uma escola pública. Logo na porta da escola Olavo Pezzotti, ao descer do carro da Folha, ele foi chamado por alunos como o "cara que vinha pra ficar no lugar da Sara". A coordenadora pediu que alguns alunos o acompanhassem durante as aulas. "As pessoas me recepcionaram muito bem", disse Felipe.

No Palmares, Sara foi recepcionada por um grupo de garotas. "Você é a municipal?", ouviu de uma das alunas na chegada. Ao final do dia, trocou telefones e ganhou canetas enfeitadas de lembrança.

Após cerca de cinco horas de aula, ambos relataram, em suas casas, quais as diferenças que mais lhes chamaram a atenção (leia nesta página). "Parece o banheiro de um shopping", disse Sara sobre o Palmares. Felipe impressionou-se com a merenda: "É muito boa. No Palmares, as cantinas servem muita fritura". Eles não chegaram a se conhecer.