Treinamento Folha   Folha Online
   
Educação
24/06/2005

Há tráfico dentro da escola, diz pesquisa

LUCIANA FARNESI E RODRIGO NITRINI
Da equipe de trainees

O tráfico de drogas ultrapassou os portões da escola pública. Segundo pesquisa inédita, 14% dos professores dizem existir venda de drogas ilícitas dentro da escola em que trabalham.

O dado é da pesquisa "Cotidiano das Escolas: Entre Violências" realizada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 113 escolas, em 2003 e 2004. Ao todo, 1.705 professores foram ouvidos em quatro capitais e no Distrito Federal.

Em São Paulo, 17,2% dos professores afirmam haver tráfico de drogas ilícitas nas escolas. O maior índice é o de Porto Alegre, onde 24,6% declaram saber da existência de tráfico no estabelecimento onde lecionam. Além dessas cidades, participaram da pesquisa Belém e Salvador.

A Unesco ouviu também os alunos de 6ª série ao 3º ano do ensino médio das mesmas escolas. São 8,9% os que declaram existir tráfico onde estudam. Segundo a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, esse índice, inferior ao dos professores, pode indicar que os estudantes "subnotificaram" a respeito do que sabem. Mas também é possível que a diferença aconteça porque "os adultos têm uma visão mais crítica".

O resultado, de qualquer forma, é maior que a percepção dos pais sobre o assunto. São 6,1% os pais que dizem haver tráfico de drogas na escola pública em que o filho estuda, segundo a Pesquisa Nacional Qualidade da Educação, divulgada em maio pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Foram ouvidos 10 mil pais ou responsáveis, de todos os Estados brasileiros.

O dado é parecido, porém, com o resultado do questionário do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) de 2003. Nele, 13,3% dos professores de língua portuguesa da 3ª série do ensino médio declararam já ter flagrado alunos sob efeito de drogas ilícitas em sala de aula.

Reforçar a segurança com policiamento ostensivo ou equipar as escolas com câmeras de vídeo não resolve o problema, segundo Abramovay. "Quando os alunos têm a sensação de que a escola não consegue controlar os problemas sozinha --e o uso desses artifícios passa essa impressão--, eles percebem na escola um vazio de poder", diz.

Abramovay lembra que o tráfico de drogas é apenas um dos tipos de violência existentes nos estabelecimentos de ensino. De acordo com dados divulgados anteriormente pela Unesco, referentes à mesma pesquisa, 20,4% dos alunos dizem haver gangues nas escolas. Entre os professores, 50,1% reportam a ocorrência de furtos, 8,2% já viram um revólver dentro da escola e 11% relatam já terem sido agredidos fisicamente na escola em que lecionam.

Para Abramovay, "a escola pública está perplexa, não sabe como responder aos anseios da população. Há linguagem de mudos entre a escola e a sociedade".

BLOG

BATE-PAPO PRÊMIOS ESPECIAL
Patrocínio

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player


Philip Morris
AMBEV


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).