São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002 | |||
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Brasil desconhece custo real
SHIN OLIVA SUZUKI RODRIGO TAVARES DA EQUIPE DE TRAINEES Apesar dos indícios de que a dor atrapalha a vida profissional dos brasileiros e os leva até a mudar de emprego, seu impacto na economia do país é ignorado. O tema é subestimado pelo governo e pelo empresariado. Desde 1995, quando pesquisa da USP mostrou que 95% dos pacientes de hospitais brasileiros tinham a carreira afetada pela dor, não existem estudos aprofundados. Não há dados abrangentes sobre fatores como perda de produtividade, faltas ao trabalho e despesas geradas pela dor. O diretor de competitividade da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Mario Bernardini, 61, diz que o tema é importante, mas não é prioridade. A entidade ensaia iniciativas, como a parceria no programa Aliviador, aprovado recentemente pelo Ministério da Saúde. "Nosso país tem muito mais coisa com que se preocupar. [A questão" deve ser vista dentro de um quadro global de saúde", diz Bernardini. O descaso contrasta com o cenário observado em países como os Estados Unidos. Lá, o governo reservou cerca de US$ 157 milhões em fundos para estudos sobre dor em 2002. O gasto vem aumentando a cada ano. Graças aos investimentos, sabe-se que a dor é a origem de 40 milhões de consultas médicas e impõe às empresas americanas 515 milhões de dias de trabalho perdidos anualmente. Os prejuízos econômicos chegam à cifra de US$ 100 bilhões anuais, segundo o Instituto Nacional de Saúde americano, órgão do governo. A Fundacentro, vinculada ao Ministério do Trabalho, também não possui nenhum estudo feito em escala nacional que enumere as perdas financeiras decorrentes da dor. A missão do órgão é promover campanhas, palestras e pesquisas voltadas à saúde do trabalhador. O presidente da Fundacentro, Humberto Carlos Parro, 59, diz que o governo poderia dar mais atenção ao tema, mas acha complicado quantificar os prejuízos. "A questão é genérica. Qualquer doença ou acidente pode causar um tipo de dor. É um universo muito amplo, fica difícil delimitar o campo de trabalho." Mesmo nos Estados Unidos as estatísticas não chegam a oferecer um quadro satisfatório do problema. O economista e professor da Universidade de Ohio Richard Vedder considera as pesquisas americanas ainda imprecisas: "Nós temos agências de estatísticas, temos uma boa estrutura no que diz respeito ao atendimento médico, mas é difícil estimar objetivamente quanto vale a dor de cada pessoa". No entanto Vedder reconhece a utilidade dos números disponíveis. Sabe-se, por exemplo, que 10% da população americana é sensível à dor em uma escala significativa. "São quase 30 milhões de pessoas. Se você considerar metade dessas pessoas trabalhando com 50% de sua força, isso já representa uma queda de 3% no PIB", afirma Vedder. De acordo com Lennie Duensing, diretora de comunicação da American Pain Foundation, uma organização não-governamental, outra grande pesquisa será feita em breve nos Estados Unidos. Na opinião de Paulo Kauffman, 37, mestre em sociologia do trabalho pela USP e diretor do Instituto Síntese, a escassez de estatísticas no Brasil pode ser explicada pelo fato de que muitos empresários acreditam que demitir ainda traz mais vantagens do que investir em prevenção. "Tenho dúvidas sobre a crença de que é mais barato para o empregador prevenir, e o Estado, historicamente, sempre protegeu o capital e a indústria em suas leis", afirma Kauffman. Os poucos dados disponíveis no Brasil apenas insinuam a dimensão do problema. A pesquisa "Dor no Brasil - Estado Atual e Perspectivas", organizada pelo Grupo de Dor da USP, englobou um universo reduzido -352 pacientes. Destes, 22,3% sentiam necessidade de abandonar o emprego por causa da dor. A realidade brasileira também dificulta a obtenção de números mais precisos: 57% dos trabalhadores não são registrados e apenas 20% das doenças profissionais são notificadas ao INSS. Próximo Texto: Careta e ginástica curam empresas doentes Índice |
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