São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002
 

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Moléstia rara "anestesia" menino

GIOVANA TIZIANI
JOÃO ALEXANDRE PESCHANSKI
DA EQUIPE DE TRAINEES

Deixar de sentir qualquer dor pode parecer um sonho para quem padece de sofrimentos crônicos, mas é, na verdade, uma doença muito grave, conhecida como analgesia congênita, e não tem cura.

Segundo o médico psicoterapeuta João Augusto Figueiró, 50, o único tratamento possível é o monitoramento, para impedir que os pacientes se machuquem gravemente.

Como não sentem dor, os pacientes não conseguem reconhecer quando uma de suas ações é perigosa e lhe oferece risco. Por isso, acabam por se automutilar.

É o caso de P. L., de dez meses. Sua mãe, F. T., 27, conta que, aos quatro meses, ele mordeu e arrancou um pedaço da língua e não reagiu.

O médico consultado à época não detectou a analgesia congênita e disse que morder a língua era normal. Recomendou à mãe que não se preocupasse e receitou apenas uma pomada.

Aos oito meses, P. L. começou a engatinhar com dificuldade e seu braço inchou, sem que ele expressasse dor. Sua mãe o levou então a outro hospital e, após 20 radiografias, ele precisou ser submetido a uma cirurgia. Os médicos constataram que P. estava com uma infecção generalizada no braço esquerdo.

Só então, perceberam que ele era indiferente à dor e diagnosticaram a doença.

Como é muito raro, pouco se sabe sobre esse distúrbio. A única certeza é que ele está associado a um gene específico do corpo.

Despesas

A mãe de P. L. afirma que foram muitos os gastos com exames, alguns ao preço de R$ 500. "Precisei até tirar minha filha do colégio particular", relata. Ela está sem trabalhar para cuidar do menino, que precisa de atenção redobrada.

Sua maior preocupação são os tombos do filho, comuns a crianças que estão começando a andar. Segundo ela, P. L. percebeu que não sente dor e não tem medo de se jogar do berço.

Enquanto aguarda por avanços no tratamento da doença, diz que considera importante divulgá-la para alertar as pessoas. "Pode haver mais gente com o problema e que não procura ajuda."



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