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Problema está fora de controle
RENATO ESSENFELDER
JOÃO ALEXANDRE PESCHANSKI
DA EQUIPE DE TRAINEES
A dor ganhou no Brasil contornos de uma epidemia. A pesquisa
mais completa sobre assunto, feita pela USP em 1995, indica que
30% dos brasileiros convivem
com algum tipo de dor crônica.
Projeções de 2001, feitas também pela USP, a partir de pesquisa realizada na cidade de Londrina (PR), sugerem que o dado está
subestimado. A legião de doentes
pode ser de 60%, ou 80 milhões.
Segundo o médico psicoterapeuta João Augusto Figueiró, 50,
75% a 80% das pessoas que procuram o sistema de saúde o fazem
por causa da dor.
Para o chefe do Centro de Dor
do Hospital das Clínicas da USP,
Manoel Jacobsen Teixeira, 51, fenômenos modernos, como poluição, estresse e sedentarismo, contribuíram para o agravamento do
problema. Ele editou o estudo de
1995, batizado de "Dor no Brasil:
estado atual e perspectivas".
O trabalho demonstrou que,
além de afetar a saúde, a dor crônica tem consequências mais amplas: 93% dos doentes declararam
que o problema interfere na sua
vida familiar.
A terapeuta corporal Marta de
Mônaco, 51, por exemplo, necessita de ajuda até para realizar tarefas simples. Com fortes dores na
coluna e sem o movimento do
braço direito há três anos, ela não
consegue se vestir nem se locomover sem o auxílio de terceiros.
Hoje, não trabalha e depende financeiramente do marido.
No Brasil, 85% dos doentes com
dor tornam-se parcial ou totalmente incapacitados para atividades normais, seja transitória ou
permanentemente.
Ranking
Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), as dores nas costas
são as mais frequentes. Estima-se
que 80% dos brasileiros têm ou
terão, um dia, lombalgia (que
atinge a parte baixa da coluna vertebral). Em 40% dos casos, a dor
inicial torna-se crônica.
As principais causas de lombalgia são má postura, esforço exagerado e doenças degenerativas. Em
90% dos casos, entretanto, a recuperação acontece espontaneamente, sem intervenção médica.
As dores relacionadas às articulações -joelho, tornozelo, cotovelo, ombro- aparecem em segundo lugar no ranking da OMS.
Em terceiro vêm as dores de cabeça (leia texto na página 7).
Em seguida aparecem as dores
musculares. A mais comum é a fibromialgia, que desencadeia dores generalizadas pelo corpo. "Dói
tudo: a carne, o pensamento", diz
a empresária Marilda Sanches Bonilha, 55, que desde os 40 sofre
com o mal, hoje sob controle à base de medicamentos.
Por causa do convívio difícil
com a síndrome dolorosa, Marilda até se divorciou do marido.
Apesar de grave, a epidemia da
dor tem solução. Para o neurologista Manoel Jacobsen, com
maior preparo dos profissionais
de saúde e programas educativos
direcionados à população, a dor
poderia, em sete anos, ser controlada no Brasil. Mas, completa, "jamais erradicada".
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