São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002
 

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Problema está fora de controle

RENATO ESSENFELDER
JOÃO ALEXANDRE PESCHANSKI
DA EQUIPE DE TRAINEES

A dor ganhou no Brasil contornos de uma epidemia. A pesquisa mais completa sobre assunto, feita pela USP em 1995, indica que 30% dos brasileiros convivem com algum tipo de dor crônica.

Projeções de 2001, feitas também pela USP, a partir de pesquisa realizada na cidade de Londrina (PR), sugerem que o dado está subestimado. A legião de doentes pode ser de 60%, ou 80 milhões.

Segundo o médico psicoterapeuta João Augusto Figueiró, 50, 75% a 80% das pessoas que procuram o sistema de saúde o fazem por causa da dor.

Para o chefe do Centro de Dor do Hospital das Clínicas da USP, Manoel Jacobsen Teixeira, 51, fenômenos modernos, como poluição, estresse e sedentarismo, contribuíram para o agravamento do problema. Ele editou o estudo de 1995, batizado de "Dor no Brasil: estado atual e perspectivas".

O trabalho demonstrou que, além de afetar a saúde, a dor crônica tem consequências mais amplas: 93% dos doentes declararam que o problema interfere na sua vida familiar.

A terapeuta corporal Marta de Mônaco, 51, por exemplo, necessita de ajuda até para realizar tarefas simples. Com fortes dores na coluna e sem o movimento do braço direito há três anos, ela não consegue se vestir nem se locomover sem o auxílio de terceiros. Hoje, não trabalha e depende financeiramente do marido.

No Brasil, 85% dos doentes com dor tornam-se parcial ou totalmente incapacitados para atividades normais, seja transitória ou permanentemente.

Ranking

Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), as dores nas costas são as mais frequentes. Estima-se que 80% dos brasileiros têm ou terão, um dia, lombalgia (que atinge a parte baixa da coluna vertebral). Em 40% dos casos, a dor inicial torna-se crônica.

As principais causas de lombalgia são má postura, esforço exagerado e doenças degenerativas. Em 90% dos casos, entretanto, a recuperação acontece espontaneamente, sem intervenção médica.

As dores relacionadas às articulações -joelho, tornozelo, cotovelo, ombro- aparecem em segundo lugar no ranking da OMS. Em terceiro vêm as dores de cabeça (leia texto na página 7).

Em seguida aparecem as dores musculares. A mais comum é a fibromialgia, que desencadeia dores generalizadas pelo corpo. "Dói tudo: a carne, o pensamento", diz a empresária Marilda Sanches Bonilha, 55, que desde os 40 sofre com o mal, hoje sob controle à base de medicamentos.

Por causa do convívio difícil com a síndrome dolorosa, Marilda até se divorciou do marido.

Apesar de grave, a epidemia da dor tem solução. Para o neurologista Manoel Jacobsen, com maior preparo dos profissionais de saúde e programas educativos direcionados à população, a dor poderia, em sete anos, ser controlada no Brasil. Mas, completa, "jamais erradicada".



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