São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002
 

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INIMIGO OCULTO
Perna amputada continua a doer

BERTA MARCHIORI
DA EQUIPE DE TRAINEES

"Já falei para a minha cabeça que eu não tenho mais perna." Apesar do aviso, a fotógrafa aposentada E. B., 88, sofre diariamente com dores no seu pé esquerdo. Pé que não faz mais parte do seu corpo desde janeiro de 2000, quando teve sua perna esquerda amputada.

E. B. sofre com o que os médicos chamam de dor fantasma, ou seja, sente dor em um membro que não possui mais.

Devido a uma úlcera no pé causada por diabetes e problemas circulatórios, a aposentada fez a primeira de duas cirurgias há dois anos, amputando sua perna na altura do meio da canela. Nessa ocasião começaram as dores.

"É como se eu estivesse andando sobre chamas e recebendo choques elétricos. No começo, eu não queria mais viver", disse ela.

No final do ano passado, a aposentada, que preferiu não ser identificada, fez a segunda cirurgia e retirou mais uma parte da perna já amputada.

Após dois anos, as dores diminuíram um pouco, mas continuam fortes. E. B. toma um coquetel de remédios e faz fisioterapia regularmente.

Apesar do sofrimento, ela não perde a esperança. "Quando eu receber a prótese, a minha vida vai mudar. É muito difícil com uma perna só."

Motivo desconhecido

Os mecanismos pelos quais a dor fantasma ocorre ainda não foram esclarecidos. O que se sabe é que, mesmo quando o sistema nervoso periférico (ramificações de nervos espalhadas pelo organismo) é lesado, como acontece na amputação, o corpo continua reconhecendo a parte extirpada.

Uma das hipóteses mais factíveis é a de que o fenômeno ocorre por "memória" da dor. O estímulo de dor, existente antes da amputação, ativa a produção de uma proteína na parte do cérebro responsável pela sensibilidade (denominada giro pós-central). O gene que produz essa proteína guardaria a "lembrança" daquela dor mesmo após a amputação.

A intensidade e a duração variam a cada caso. Alguns sentem pouca dor ou sentem-na esporadicamente, enquanto outros sofrem com dores tão fortes e contínuas, que chegam a ser incapacitantes.

As dores, que se iniciam geralmente logo após a amputação, tendem a diminuir com o passar do tempo e eventualmente podem desaparecer por completo.



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