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INIMIGO OCULTO
Perna amputada continua a doer
BERTA MARCHIORI
DA EQUIPE DE TRAINEES
"Já falei para a minha cabeça
que eu não tenho mais perna."
Apesar do aviso, a fotógrafa
aposentada E. B., 88, sofre diariamente com dores no seu pé
esquerdo. Pé que não faz mais
parte do seu corpo desde janeiro
de 2000, quando teve sua perna
esquerda amputada.
E. B. sofre com o que os médicos chamam de dor fantasma,
ou seja, sente dor em um membro que não possui mais.
Devido a uma úlcera no pé
causada por diabetes e problemas circulatórios, a aposentada
fez a primeira de duas cirurgias
há dois anos, amputando sua
perna na altura do meio da canela. Nessa ocasião começaram
as dores.
"É como se eu estivesse andando sobre chamas e recebendo choques elétricos. No começo, eu não queria mais viver",
disse ela.
No final do ano passado, a
aposentada, que preferiu não ser
identificada, fez a segunda cirurgia e retirou mais uma parte da
perna já amputada.
Após dois anos, as dores diminuíram um pouco, mas continuam fortes. E. B. toma um coquetel de remédios e faz fisioterapia regularmente.
Apesar do sofrimento, ela não
perde a esperança. "Quando eu
receber a prótese, a minha vida
vai mudar. É muito difícil com
uma perna só."
Motivo desconhecido
Os mecanismos pelos quais a
dor fantasma ocorre ainda não
foram esclarecidos. O que se sabe é que, mesmo quando o sistema nervoso periférico (ramificações de nervos espalhadas pelo organismo) é lesado, como
acontece na amputação, o corpo
continua reconhecendo a parte
extirpada.
Uma das hipóteses mais factíveis é a de que o fenômeno ocorre por "memória" da dor. O estímulo de dor, existente antes da
amputação, ativa a produção de
uma proteína na parte do cérebro responsável pela sensibilidade (denominada giro pós-central). O gene que produz essa
proteína guardaria a "lembrança" daquela dor mesmo após a
amputação.
A intensidade e a duração variam a cada caso. Alguns sentem
pouca dor ou sentem-na esporadicamente, enquanto outros
sofrem com dores tão fortes e
contínuas, que chegam a ser incapacitantes.
As dores, que se iniciam geralmente logo após a amputação,
tendem a diminuir com o passar
do tempo e eventualmente podem desaparecer por completo.
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