São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002
 

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Existe cura, diz médico que estudou a própria enxaqueca

BRUNO LIMA
DA EQUIPE DE TRAINEES

Embora não haja trabalhos científicos que apresentem a cura da enxaqueca, ela é possível, na opinião de um dos principais especialistas no assunto no mundo, o médico Edgard Raffaelli Jr., 72.

Pioneiro no estudo da dor de cabeça no Brasil, ele diz que a doença é apenas uma das disfunções causadas por um distúrbio da região do cérebro denominada sistema límbico.

"O cérebro é o computador do corpo. O sistema límbico é o computador do cérebro", explica. Esse sistema coordena a liberação de neurotransmissores (substâncias responsáveis pelo funcionamento harmônico do cérebro).

A conclusão de Raffaelli se baseia em 45 anos de observação de pacientes com enxaqueca, inclusive ele mesmo. O médico declara que hoje está curado.

Segundo ele, problemas como depressão, bruxismo (ranger de dentes durante o sono), torcicolos, insônia, manchas roxas sob a pele, tensão pré-menstrual e asma ou bronquite na infância estão ligados ao sistema límbico em pacientes com enxaqueca.
Para grande parte dos médicos, a doença (que é herdada geneticamente) não poderia ser curada, mas controlada. Raffaelli compara a doença ao câncer: se tratada a tempo e adequadamente, pode ter cura.

"A única pessoa neste país que tem condições de dizer que enxaqueca tem cura é o Raffaelli", diz o responsável pelo ambulatório de cefaléia do Hospital das Clínicas da USP, Getúlio Daré Rabello, 50. O neurologista afirma, entretanto, que falta a Raffaelli provar suas teorias, transformando os dados de seus arquivos em estatísticas.

De acordo com um estudo analítico do médico Marcelo Bigal, 32, do New England Center of Headache (centro de pesquisa localizado em Stamford, EUA), o Brasil -segundo país com mais membros na Sociedade Internacional de Cefaléia- gasta mais de US$ 140 milhões por ano com atendimento público de pacientes com enxaqueca. Para diminuir custos, ele propõe o uso oral da dipirona (princípio da Novalgina) nas crises menos graves.

Tratamentos modernos usam diariamente uma medicação preventiva (para atuar no distúrbio cerebral), e combinam antiinflamatórios e remédios chamados triptanos (para aliviar as crises).

Bigal diz que seu grupo pode estar descobrindo um novo tipo de cefaléia, ligado ao hipotiroidismo. A mesma pesquisa relaciona alergias, asma e consumo de álcool à transformação da dor de cabeça em crônica.

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