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Negro é barrado em baile no RS
DA EQUIPE DE TRAINEES
Na noite do 102º aniversário
da Lei Áurea, 13 de maio de 1990,
o servidor público negro Claudiomar Sampaio Mendes,40,
pôde perceber que nem sempre
a liberdade garantida em 1888 se
faz valer na realidade.
Ao sair com um grupo de amigos para uma noite de diversão
na colônia alemã de São Geraldo
-nas proximidades do município de Cristal (RS)-, Claudiomar foi impedido de entrar num
baile devido a sua cor.
Claudiomar, que nasceu em
Cristal e possui uma chácara em
São Geraldo, era o único negro
num grupo de 20 amigos e foi o
único a ser barrado na entrada
do clube Frederico Emílio Beier,
onde se dava o baile.
Claudiomar chamou a polícia
e conseguiu entrar no clube.
Contudo, os organizadores do
baile -a família Beier, de origem alemã- só permitiram
que ele ficasse na copa.
"Puseram dois "armários" [homens fortes" do meu lado e só
me deixaram beber na copa.
Dançar, nem pensar", afirma
Claudiomar Sampaio.
Acabada a festa, a vítima voltou para sua casa em Pelotas e
procurou o promotor Vilson
Faria, que se interessou pelo caso e ofereceu denúncia de racismo contra a família Beier.
"Eu sempre me interessei pela
causa negra, ainda mais aqui no
Rio Grande do Sul, onde o povo
é muito racista", diz o promotor
aposentado Faria, 53.
O caso foi julgado em 1994 pelo Tribunal de Alçada do Rio
Grande do Sul e foi decretada a
condenação de Edegard Beier,
herdeiro do clube de Frederico
Beier, morto antes do julgamento. Réu primário, Edegard teve
de prestar serviços à comunidade durante cinco anos.
Claudiomar diz atualmente
que o caso acabou alterando a
vida da comunidade de São Geraldo. "Os negros e os brancos
sempre conviveram em paz.
Eles [descendentes de alemães"
até convidavam a gente para os
casamentos. Mas depois do que
aconteceu a amizade entre nós
não foi mais a mesma."
Segundo a vítima, até o início
dos anos 90 eram comuns os
bailes restritos a brancos. Também havia festas das quais somente negros participavam.
"Só depois é que inventaram o
bailão, onde podia entrar todo
mundo", afirma Claudiomar.
Outro lado
Elisa Krolow, 42, irmã de Edegard Beier, diz que a família sofreu muito com a condenação,
pois fora o pai quem barrara a
entrada do negro no clube.
O advogado da família, Gilson
Bercot, considerou o julgamento exagerado para a situação.
"A promotoria tratou o caso
sem levar em consideração a
condição dos Beier. É uma família muito simples, que nem português fala direito", diz Bercot.
Quanto à atitude da família de
não permitir a entrada de negros no baile, Bercot comenta:
"Eles [Beier] não fizeram isso
por mal. São uma família de costumes muito tradicionais e não
estavam acostumados a dançar
com negros".
(FM)
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