São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001
 

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Negro é barrado em baile no RS

DA EQUIPE DE TRAINEES

Na noite do 102º aniversário da Lei Áurea, 13 de maio de 1990, o servidor público negro Claudiomar Sampaio Mendes,40, pôde perceber que nem sempre a liberdade garantida em 1888 se faz valer na realidade.
Ao sair com um grupo de amigos para uma noite de diversão na colônia alemã de São Geraldo -nas proximidades do município de Cristal (RS)-, Claudiomar foi impedido de entrar num baile devido a sua cor.
Claudiomar, que nasceu em Cristal e possui uma chácara em São Geraldo, era o único negro num grupo de 20 amigos e foi o único a ser barrado na entrada do clube Frederico Emílio Beier, onde se dava o baile.
Claudiomar chamou a polícia e conseguiu entrar no clube. Contudo, os organizadores do baile -a família Beier, de origem alemã- só permitiram que ele ficasse na copa.
"Puseram dois "armários" [homens fortes" do meu lado e só me deixaram beber na copa. Dançar, nem pensar", afirma Claudiomar Sampaio.
Acabada a festa, a vítima voltou para sua casa em Pelotas e procurou o promotor Vilson Faria, que se interessou pelo caso e ofereceu denúncia de racismo contra a família Beier.
"Eu sempre me interessei pela causa negra, ainda mais aqui no Rio Grande do Sul, onde o povo é muito racista", diz o promotor aposentado Faria, 53.
O caso foi julgado em 1994 pelo Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul e foi decretada a condenação de Edegard Beier, herdeiro do clube de Frederico Beier, morto antes do julgamento. Réu primário, Edegard teve de prestar serviços à comunidade durante cinco anos.
Claudiomar diz atualmente que o caso acabou alterando a vida da comunidade de São Geraldo. "Os negros e os brancos sempre conviveram em paz. Eles [descendentes de alemães" até convidavam a gente para os casamentos. Mas depois do que aconteceu a amizade entre nós não foi mais a mesma."
Segundo a vítima, até o início dos anos 90 eram comuns os bailes restritos a brancos. Também havia festas das quais somente negros participavam.
"Só depois é que inventaram o bailão, onde podia entrar todo mundo", afirma Claudiomar.

Outro lado
Elisa Krolow, 42, irmã de Edegard Beier, diz que a família sofreu muito com a condenação, pois fora o pai quem barrara a entrada do negro no clube.
O advogado da família, Gilson Bercot, considerou o julgamento exagerado para a situação.
"A promotoria tratou o caso sem levar em consideração a condição dos Beier. É uma família muito simples, que nem português fala direito", diz Bercot.
Quanto à atitude da família de não permitir a entrada de negros no baile, Bercot comenta: "Eles [Beier] não fizeram isso por mal. São uma família de costumes muito tradicionais e não estavam acostumados a dançar com negros". (FM)


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