São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001
 

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SAÚDE

Ativistas do setor e acadêmicos reclamam da falta de registros e de documentos oficiais onde conste a cor

Chance de morrer na infância varia de uma raça para outra

MICHAEL MOGENSEN
DA EQUIPE DE TRAINEES

O risco de morte para os recém-nascidos negros é o mesmo verificado mais de 15 anos atrás para os recém-nascidos brancos. O risco de morte das mães negras pode ser até sete vezes maior que o risco da morte das brancas. Hoje, a expectativa de vida para os negros é menor que a expectativa de vida estimada para os brancos 20 anos atrás.
Nas última décadas, o país diminuiu as taxas de mortalidade, particularmente dos recém-nascidos. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 87 mortes por 1.000, em 1977, para 35 em 1999. Mas a diminuição dessa incidência entre os brancos foi da ordem de 43%, enquanto entre os negros recém-nascidos a queda foi de 25%.
A pesquisadora Estela María da Cunha, do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas, trabalhou com dados que registram a mortalidade infantil e a cor para analisar a diferença na taxa de mortalidade entre brancos e negros. O resultado dessas análises mostram não só a manutenção da diferença na mortalidade segundo a cor, mas seu agravamento.
As desigualdades entre os grupos se acentuaram ao longo do tempo. Os estudos mostram que, enquanto a diferença entre os níveis de mortalidade infantil de brancos e negros era de 21%, segundo dados do Censo de 1980, quase 20 anos depois esse valor praticamente dobrou para 40%.

Mortalidade materna
E não é só a taxa de mortalidade infantil que mostra a desigualdade. Entre 1993 e 1998, Alaerte Leandro Martins, presidente do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna do Paraná, baseou-se em alguns dos poucos dados nos quais constam cor e mortalidade materna para analisar a morte de 956 mulheres. A pesquisa revela que o risco relativo de morte das negras por causas ligadas à maternidade foi 7,4 vezes maior que das brancas.
No Brasil a causa principal da morte materna é por hipertensão não tratada durante a gravidez. Os negros têm predisposição biológica para hipertensão e o precário acesso aos serviços de saúde por parte de muitas mães negras pode ajudar a agravar a situação.

Expectativa de vida
Embora as taxas de mortalidade diminuam e a expectativa de vida ao nascer (média de anos a viver) aumente para brancos e negros, a brecha entre a expectativa dos dois grupos se mantém. Os brasileiros em geral vivem por mais tempo, mas as estatísticas mostram que os negros morrem, na média, mais cedo que os brancos.
Baseados em dados do IBGE, o pesquisador Marcelo Paixão da Universidade Federal do Rio de Janeiro estima que entre 1940 e 1950 a diferença na expectativa de vida dos negros e dos brancos foi de sete anos, uma diferença mantida até hoje em dia.
Quando se faz intervir a variável gênero, a expectativa de vida do homem negro em 1997 foi de só 62 anos. É quatro anos menor que a expectativa de vida do homem branco na década de 70 e comparável ao homem da Guiana, um dos países mais pobres do continente sul americano.
A mulher negra, embora tenha uma expectativa de vida maior que a do homem negro, perde para o homem branco nesse índice. Em 1997 a expectativa de vida da mulher negra era 66 anos, três anos menos que o homem branco e oito meses abaixo da média nacional do país.
Pesquisadores e ativistas da área de saúde ouvidos pela Folha consideram que o quadro pode ser mais dramático -o tamanho do problema estaria sendo mascarado pela falta de estatísticas oficiais. Para a médica clínica e ativista de saúde, Maria de Fátima Oliveira, o fato de que registros e formulários usados no sistema de saúde raramente incluem o quesito cor torna ainda mais difícil o reconhecimento do problema.


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