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Adoções por casal branco predominam
FABIO GUIMARÃES ROLIM
DA EQUIPE DE TRAINEES
De cada 100 mulheres que fazem
adoção formal, somente 3 são negras. Em relação aos homens, 14
são negros a cada 100.
Os dados foram obtidos pela
psicóloga e professora Lídia Weber, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), que pesquisou
311 famílias adotivas espalhadas
por 105 cidades brasileiras.
Pelo levantamento, 96,2% das
mães são brancas, 3,1% são pardas, e 0,2% são pretas. Entre os
pais, 85,5% são brancos, 12,8%
são pardos, e 1,2%, pretos.
Há menos negros adotando que
crianças negras sendo adotadas, o
que indica que parte das crianças
negras estejam sendo tiradas dos
orfanatos por pais brancos.
Para Lídia, a pequena presença
de pais negros nos números das
adoções pode ser explicada pela
marginalização social e econômica desse segmento da população.
Paulo Sérgio dos Santos, 41, presidente do Angaad (Associação
Nacional dos Grupos de Apoio à
Adoção), acredita que a marginalização não deveria ser considerada pelos negros como um obstáculo à adoção.
"Se a comunidade negra buscasse fortalecer a proposta e a levasse adiante, muitos problemas
poderiam ser minimizados", diz
ele, que é filho adotivo.
Roberto da Silva, 42, pedagogo e
autor do livro "Filhos do Governo", sobre internos da Febem,
concorda e afirma que o principal
na adoção das crianças é a disponibilidade de afeto e não de dinheiro. Segundo ele, os movimentos negros deveriam se unir
em torno da questão da adoção.
"Se os negros querem espaço na
universidade e no mercado de
trabalho, por que não tratar questões como adoção e abandono infantil na perspectiva de uma questão étnica?", pergunta Silva.
Representantes de movimentos
negros discordam. Para Sueli Carneiro, 51, presidente da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra,
os negros têm a adoção incorporada em sua estrutura familiar de
uma maneira informal.
Ela cita as famílias negras às
quais se agregam frequentemente
crianças de outras famílias. "A família burguesa nuclear ainda é
um modelo distante da maioria
da nossa população", diz Sueli.
Ivanir dos Santos, 47, que se
considera "afrodescendente" e é
presidente do Ceap (Centro de
Articulação de Populações Marginalizadas), concorda com Sueli.
Para ele, as adoções informais são
muito comuns não só entre as comunidades negras, mas também
em outras camadas mais pobres
da sociedade brasileira.
Ivanir acredita que, nos casos de
adoção formal, existe preferência
por crianças brancas e que isso
serve para desmistificar a democracia racial do Brasil.
"Se o dado de raça e cor não fosse importante, as pessoas adotariam crianças negras, pois são as
que mais precisam de ajuda", afirma o presidente do Ceap.
Crianças do Sul
A pesquisadora Lídia Weber
também fez um levantamento em
Curitiba, entre 1990 e 1995, que
mostrou que 75% das crianças
disponíveis eram adotadas por
casais dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A escolha pelo
sul do país para adoção, segundo
ela, fundamenta-se numa esperança de encontrar mais crianças
brancas disponíveis para adoção
do que em outros Estados.
Santos, do Angaad, considera
"restritivo" o perfil determinado
pelo adotante brasileiro. Para ele,
o processo de adoção é lento não
por morosidade da Justiça, mas
porque os pais exigem que as
crianças sejam brancas.
Lídia concorda. "Existem pessoas que estão há mais de dois
anos na fila só porque querem um
bebê com até três meses, menina e
branca. Alguns preferem nem
adotar", conta a psicóloga.
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