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Negro ganha eleição onde branco deixa
DA EQUIPE DE TRAINEES
As maiores oportunidades de
inserção do negro na política brasileira se concentram nas Câmaras Municipais, segundo ativistas
do movimento negro e especialistas ouvidos pela Folha.
O pesquisador Cloves Luiz Pereira Oliveira, 37, mestre em sociologia pela Universidade de
Pittsburgh, nos EUA, e único especialista na área, explica o fato
pela análise da competição política no Brasil.
Para ele a possibilidade de sucesso de um negro numa eleição,
basicamente, é determinada pelo
"prêmio" em jogo, ou seja, quanto mais importante for o cargo,
maiores serão os obstáculos.
Além disso, eleições municipais
são a porta de entrada do negro
no poder político, pois exigem
menos recursos econômicos e, segundo Sueli Carneiro, 51, presidente do Geledés - Instituto da
Mulher Negra, a comunidade negra tem baixo poder econômico
para financiar candidaturas.
Nesta perspectiva, a ONG Ceap
(Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) procura
incentivar a candidatura de lideranças negras locais, independentemente do partido, conforme depoimento do seu presidente Ivanir dos Santos, 47.
Logo, as Câmaras Municipais
oferecem menos dificuldades para o negro, pois são consideradas
de menor importância.
Na Bahia -cuja população negra é de 78,5%-, 11,1% Assembléia Legislativa é composta por
negros, enquanto que, na Câmara
Municipal de Salvador, o índice
chega 45,7%, segundo dados do
pesquisador Cloves de Oliveira.
Nas Assembléias estaduais do
Rio de Janeiro e São Paulo, em virtude da própria importância política e econômica desses dois centros, já se observa um decréscimo
no número de negros, 7,1% e
3,1%, respectivamente.
Obstáculos
O senador Geraldo Cândido,
(PT-RJ), 62, negro, aponta o momento da escolha dos candidatos
como discriminatório, pois há incorporação inconsciente do critério da "boa aparência", no qual o
branco leva vantagem.
O candidato negro sofre ainda
com a falta de visibilidade durante
a campanha, segundo o deputado
negro Luiz Alberto (PT-BA), 48.
Outro problema é que o discurso racial tem baixa receptividade
no eleitorado, segundo Sueli Carneiro. Junte-se a isso a questão de
que "a população negra é mal informada e não tem consciência de
raça", afirma Geraldo Cândido.
Cloves Oliveira observa, ainda,
que o negro, mesmo eleito, continua sofrendo dificuldades como
conquistar altos cargos de administração nas casas legislativas
-presidências e secretarias de
comissões mais importantes.
Alternativas
A adoção de cotas nos partidos
políticos para candidatos negros
não seria o caminho para os dois
políticos e o especialista ouvidos
pela Folha. Já para o ex-deputado
federal e ex-senador Abdias do
Nascimento, 87, cotas são válidas,
embora ressalve que outras medidas são necessárias.
Ações mais efetivas, segundo os
entrevistados, seriam o financiamento público das campanhas e
maior espaço na mídia para candidatos negros, além de melhor
tratamento de sua imagem pelos
profissionais de marketing.
(DS)
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