São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001
 

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Negro ganha eleição onde branco deixa

DA EQUIPE DE TRAINEES

As maiores oportunidades de inserção do negro na política brasileira se concentram nas Câmaras Municipais, segundo ativistas do movimento negro e especialistas ouvidos pela Folha.
O pesquisador Cloves Luiz Pereira Oliveira, 37, mestre em sociologia pela Universidade de Pittsburgh, nos EUA, e único especialista na área, explica o fato pela análise da competição política no Brasil.
Para ele a possibilidade de sucesso de um negro numa eleição, basicamente, é determinada pelo "prêmio" em jogo, ou seja, quanto mais importante for o cargo, maiores serão os obstáculos.
Além disso, eleições municipais são a porta de entrada do negro no poder político, pois exigem menos recursos econômicos e, segundo Sueli Carneiro, 51, presidente do Geledés - Instituto da Mulher Negra, a comunidade negra tem baixo poder econômico para financiar candidaturas.
Nesta perspectiva, a ONG Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) procura incentivar a candidatura de lideranças negras locais, independentemente do partido, conforme depoimento do seu presidente Ivanir dos Santos, 47.
Logo, as Câmaras Municipais oferecem menos dificuldades para o negro, pois são consideradas de menor importância.
Na Bahia -cuja população negra é de 78,5%-, 11,1% Assembléia Legislativa é composta por negros, enquanto que, na Câmara Municipal de Salvador, o índice chega 45,7%, segundo dados do pesquisador Cloves de Oliveira.
Nas Assembléias estaduais do Rio de Janeiro e São Paulo, em virtude da própria importância política e econômica desses dois centros, já se observa um decréscimo no número de negros, 7,1% e 3,1%, respectivamente.

Obstáculos
O senador Geraldo Cândido, (PT-RJ), 62, negro, aponta o momento da escolha dos candidatos como discriminatório, pois há incorporação inconsciente do critério da "boa aparência", no qual o branco leva vantagem.
O candidato negro sofre ainda com a falta de visibilidade durante a campanha, segundo o deputado negro Luiz Alberto (PT-BA), 48.
Outro problema é que o discurso racial tem baixa receptividade no eleitorado, segundo Sueli Carneiro. Junte-se a isso a questão de que "a população negra é mal informada e não tem consciência de raça", afirma Geraldo Cândido.
Cloves Oliveira observa, ainda, que o negro, mesmo eleito, continua sofrendo dificuldades como conquistar altos cargos de administração nas casas legislativas -presidências e secretarias de comissões mais importantes.

Alternativas
A adoção de cotas nos partidos políticos para candidatos negros não seria o caminho para os dois políticos e o especialista ouvidos pela Folha. Já para o ex-deputado federal e ex-senador Abdias do Nascimento, 87, cotas são válidas, embora ressalve que outras medidas são necessárias.
Ações mais efetivas, segundo os entrevistados, seriam o financiamento público das campanhas e maior espaço na mídia para candidatos negros, além de melhor tratamento de sua imagem pelos profissionais de marketing. (DS)


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