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Cassetete de policiais faz discriminação
DA EQUIPE DE TRAINEES
A razão da violência policial ser
maior com negros do que com
brancos tem origem há quase dois
séculos, na visão do delegado
aposentado e ex-chefe de Polícia
Civil do Rio de Janeiro, deputado
estadual Hélio Luz (PT-RJ), 56.
No dia 10 de maio de 1808, um
alvará de D. João 6º criou a Intendência Geral de Polícia -ancestral da Polícia Civil- como uma
força voltada para o Estado, de
forma a protegê-lo. Oitenta anos e
três dias depois, foi assinada a
abolição da escravatura. O foco da
polícia, porém, não mudou. O negro, antes escravo, continuava
suspeito a priori.
Segundo pesquisa do Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião) de 1999, em confrontos com
a polícia os negros e pardos
(70,2%) morrem mais que os
brancos (29,8%). No período pesquisado (1993 a 1996), os negros
representavam 8,4% e os pardos
31,6% da população. Os brancos
correspondiam a 60% dos moradores das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, alvos do estudo.
"A função básica desse aparelho
[polícia" era controlar o escravo
urbano e proteger o rei e a corte.
Ela faz isso até hoje: o escravo urbano se chama favelado, excluído;
o rei e a corte se chamam presidente, governador, prefeito e elites", afirma o deputado petista.
Para o antropólogo Luis Eduardo Soares, 47, consultor da Prefeitura de Porto Alegre e ex-subsecretário de segurança pública do
Rio de Janeiro, a "luta contra o racismo é uma luta contra a polícia
corrupta e violenta".
"A transformação da instituição
policial, no sentido da psicologia
individual vai exigir uma geração
de qualificação de formação que
não vai se dar independentemente das mudanças na sociedade
brasileira", diz, ressaltando que
somente no eixo Rio-São Paulo o
contingente das polícias é de quase 150 mil pessoas.
O consultor insiste que a violência policial contra o negro pode
ser interrompida rapidamente,
pois seria uma mudança de comportamento. "Independente da
cabeça truculenta, podemos frear
a violência", afirma.
Segundo o coronel reformado
da PM de São Paulo José Vicente,
pesquisador do Instituto Ferdinand Braudel, a violência policial
deve ser freada como um todo.
E isso deveria ser feito através de
"procedimentos relativos ao uso
adequado, moderado da força".
Dados de pesquisa Datafolha de
1997 revelam que 38% das pessoas revistadas pela polícia foram
ofendidas e 19%, agredidas fisicamente. Outro ponto ressaltado
por Vicente é tornar a polícia mais
técnica e profissional.
Os três especialistas convergem
na solução do problema: "É necessário haver muita pressão da
opinião pública", diz Vicente.
"Para mudar esse quadro, devemos democratizar o Estado brasileiro, ou seja, fazer com que ele se
volte exclusivamente para a população como um todo", acrescenta Hélio Luz.
"Se [essas mudanças" estão postas na agenda política como prioridade, temos grandes chances de
alterar o comportamento", completa Luis Eduardo.
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