14/02/2006

Ladrões de bicicleta roubam cena

LUCAS NEVES E THARSILA PRATES
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

O flagrante de um oficial dedicando 20 minutos do plantão de sábado ao polimento de uma Blazer da PM atesta o que as estatísticas da Secretaria da Segurança Pública já sinalizavam: a carga de trabalho na corporação de Andradina não é das mais intensas. Os nove homicídios, 29 roubos e zero roubo de veículo registrados na cidade, entre janeiro e setembro deste ano, deixam para os pequenos furtos o posto de campeões das ocorrências policiais.

O delegado Tadeu Aparecido, da Delegacia de Investigações Gerais do município, diz que, em média, duas bicicletas são levadas por dia. Sumiços de aparelhos de som de carros também são comuns. "Os autores são adolescentes que usam os produtos para comprar drogas", afirma.

A falta de perspectivas de emprego e de opções de entretenimento que leva muitos desses jovens ao consumo da maconha e do crack encabeça a lista de queixas dos moradores. "Estou aqui porque ainda não tive a chance de ir embora. O pessoal [os políticos] se esqueceu daqui", reclama o comerciante Wenquer Oliveira Marques. O coro é engrossado pela representante de concursos públicos Selma Firmino Beraldo: "Aqui não tem cultura, é um atraso de vida".

Quem passeia pela feira de domingo, no centro, é obrigado a discordar. Na barraquinha de ervas e raízes, a "manica de cadela" promete a cura do vitiligo e a "batata de purga" dá fim aos vermes. E para estresse? "O bom para estresse é dinheiro", recomenda o feirante Alberto Soares.

A alguns passos dali, está a banca de CDs, com hits que fogem ao radar das FMs metropolitanas. Em volume de oferta, o sertanejo só tem sua supremacia ameaçada pelo calipso, a nova encarnação do brega. No fim da rua, uma nativa vestida de baiana prepara tapiocas doces e salgadas a R$ 2. A cena prova que, em Andradina, cultura traja simplicidade e dispensa riqueza.