14/02/2006

"Troquei a Grande SP por Botucatu"

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

A paulistana Lúcia da Conceição Alcântara, 44, adotou a cidade de Botucatu, a 230 km de São Paulo. Bastou um ano para ela ter certeza de que não quer mais ir embora. A tranquilidade, a natureza e as pessoas conquistaram a artesã, que decidiu se mudar depois de ter passado férias na cidade.

Em São Bernardo do Campo, onde morou de 1997 a 2004, Alcântara foi assaltada duas vezes --numa delas, teve o revólver apontado para a sua cabeça. Um dos seus sobrinhos foi assassinado em Diadema aos 20 anos. Para ela, Botucatu é a cidade ideal para quem quer descanso. "Aqui, eu posso ficar mais com a minha família, caminhar, fazer ginástica."

Lúcia Alcântara sabia que a mudança de vida ia ser radical. Ela fechou o contrato de aluguel da casa nova por telefone e as duas primas que já moravam em Botucatu tiveram que esperá-la na entrada da cidade para orientar o caminhão de mudança. "Depois que eu me instalei, pensei: ‘Estou em Botucatu, e agora?’", relembra. Os quatro filhos da artesã conseguiram vaga no colégio logo que se mudaram. "Estou num lugar onde as coisas estão acontecendo para mim e para os meus filhos. A vida deu uma guinada para melhor", diz.

Botucatu, que tem população estimada pela Fundação Seade de 117.305 habitantes, possui o menor coeficiente de homicídio doloso por grupo de 100 mil habitantes, entre os municípios do Estado com população igual ou superior a essa faixa. A Secretaria da Segurança Pública registrou na cidade dois homicídios dolosos de janeiro a setembro deste ano. Foram dez no mesmo período do ano passado. O número de roubos caiu de 98 para 97 e o de roubos de veículos ficou estável --12.

Qualidade de vida

O secretário de Segurança do município, Ricardo Rodrigues dos Santos, afirma que a menor criminalidade pode ser explicada por vários aspectos, entre os quais "a alta qualidade de vida da população", o crescimento da indústria na cidade --especialmente a aeronáutica-- e os baixos índices de migração. Além disso, Santos destaca o fato de a cidade ser "tradicionalmente pacata".

O aposentado Antônio Garcia, 65, nunca pensou em se mudar do bairro onde mora --Jardim Peaberu-- nem da cidade. Tem oito filhos e 18 netos, todos residentes em Botucatu. "São tantos netos que esqueço até o nome." Em dias de calor, Garcia costuma ficar conversando na calçada com os amigos Antônio Felício Sonccin, 61, e com Teodoro dos Santos, 66, até as 11 da noite.

O presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), Clóvis de Almeida Martins, acha que Botucatu ainda é uma cidade segura em relação a muitas outras, mas identifica dois problemas: a desordenação do trânsito e o tráfico de drogas. Ele diz que o município precisa agir de forma preventiva, investindo nos bairros mais carentes.

Há vagas

Sobre o policiamento ostensivo, Martins afirma que o efetivo da Polícia Militar está defasado há, no mínimo, dez anos. A criação da Guarda Municipal, para preencher inicialmente 30 vagas, vai contribuir, segundo ele, para o policiamento do patrimônio da cidade, "aliviando muito pouco a sobrecarga de trabalho dos policiais militares".

O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar do Interior, Paulo Sérgio Valle, afirma que o efetivo policial está bem distribuído, mas admite que existem vagas a serem preenchidas.

Uma moradora do bairro Vila São Luís, que não quis se identificar, reclama que menores ficam em sua esquina vendendo e usando droga. Por causa disso, colocou sua casa para alugar. Quando conseguir fechar negócio, vai se mudar para o bairro onde se criou, ainda em Botucatu. Segundo ela, é mais tranquilo. (TP)