Treinamento Folha   Folha Online
   
Novo em Folha 40ª turma
14/02/2006

Atores explicam o caminho da fama

Profissionais da área falam sobre os perigos e equívocos de quem tem o estrelato como objetivo de vida

BRUNO SEGADILHA
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Fernando Donasci/Folha Imagem
Paola Oliveira, 23, é natural de São Paulo e começou fazendo comerciais para televisão. Estudou teatro no Escola de Atores, em São Paulo, até ser selecionada para o elenco de "Belíssima"
Paola Oliveira, 23, é natural de São Paulo e começou fazendo comerciais para televisão. Estudou teatro no Escola de Atores, em São Paulo, até ser selecionada para o elenco de "Belíssima"
A cena é a seguinte: dois jovens se abraçam e desejam boa sorte. Caminham por uma rua cenográfica, entram em uma casa. Lá dentro, eles seguram uma placa com seus nomes, telefones, sentam-se em um sofá, respiram fundo até chegar a hora do "gravando!".

Gabriela Dumont, 23, e Rafael Maia, 27, são os personagens dessa cena. Eles disputam uma vaga na próxima novela do SBT, "Cristal", que deve ir ao ar em 2006. Além deles, mais de 700 candidatos ao estrelato esperavam a hora de começar o teste. "Fazer carreira em televisão para mim é um sonho", afirma a atriz, que nunca fez teatro antes.

Mais do que uma necessidade profissional, fazer televisão pode ser um caminho rápido para a fama. Por ano, Bandeirantes e SBT cadastram mais de 4.000 atores que querem fazer parte do elenco das principais produções. As assessorias da Globo e da Record não souberam responder sobre o número de aspirantes.

De acordo com Ciça Castello, dona da Maciça Produções, empresa que seleciona atores para a novela "Floribella", o último teste envolveu cerca de 400 candidatos. Por mês, a produtora recebe cerca de cem currículos novos. "Sempre respondemos a todos que chegam. Pedimos uma foto natural, que não precisa ser de book, para vermos como é a pessoa normalmente, no dia-a-dia."

No SBT chegam, por semana, cerca de 50 currículos. Fernando Rancoleta, diretor de elenco da emissora, diz que a primeira providência na seleção é descartar os curiosos, o que é feito exigindo-se o registro profissional do ator, conhecido no jargão artístico como DRT (Delegacia Regional do Trabalho). "Se não tiver o DRT, nem atendo a pessoa."

Sem medo de não ser atendido, Guilherme Trajano, 25, que é ator profissional, resolveu arriscar e levar seu currículo ao SBT por conta própria, sem o intermédio de um agente, pessoa que conhece os profissionais influentes no meio artístico e indica os atores para testes. "Quem não arrisca não petisca", lembra Trajano.

Deu certo. O ator foi chamado para testes e hoje é uma das apostas de Rancoleta, junto com Débora Gomez, 24, e Milena Toscano, 21, colegas de elenco em "Os Ricos Também Choram".

No ar em "Malhação", Caroline Abras, 18, diz que fez muitos testes antes de conseguir um papel. Sua primeira tentativa de entrar na novela não emplacou. "A pior coisa de um teste é você ficar ‘editada’ (ser cotada para o papel) e não dar certo, é frustrante."

Nesse sentido, Paola Oliveira, 23, pode se considerar em uma posição privilegiada: com pouco mais de um ano de estudo, a atriz conseguiu um papel de destaque na novela "Belíssima". Oliveira, que começou a carreira fazendo comerciais, não esperava dar certo tão cedo. "É um sonho começar a estudar e ser tão próspera, estar trabalhando com quem estou."

Ariela Massoti, 20, também não pode reclamar: foi aluna na mesma escola de atores e, pouco tempo depois, foi aprovada nos testes para a novela "Bang Bang". Mesmo sem muita experiência, diz contar com a ajuda e com a paciência dos mais antigos. Para Ariela, a TV era um desejo distante. "É a época mais feliz da minha vida, estou realizando um sonho de infância."

Tornar-se um astro, entretanto, pode exigir mais do que sorte e talento. Beto Silveira, responsável pela preparação de Ana Paula Arósio, destaca a importância da preparação do ator antes de ser lançado. Para ele, a idéia do sucesso instantâneo é falsa: os atores que são "lançados" pelas emissoras já têm um trabalho sólido.

"As pessoas falam: ‘Nossa, estão lançando essa menina!’. Mentira. Essa menina já fez teatro, estudou, se preparou antes. A Ana Paula Arósio ficou um ano e meio se preparando antes de se arriscar no vídeo", contesta.

Sobre a falta de preparo de alguns atores, Nilton Travesso, ex-diretor de teledramaturgia do SBT, diz que a carreira para aqueles que não têm estudo e que visam a TV como único objetivo é curta. "Eu tenho medo dessas coisas. Esses atores querem a fama rápida. Conseguem, mas caem muito rápido também. Acho perigoso embarcar nessa ilusão", avalia Travesso.

Julianne Trevisol, 22, que, junto com Juliana Vas, 17, deve estrear na segunda temporada de "Floribella" em janeiro do ano que vem, concorda que o ator não deve investir na carreira com essa única intenção. "Sou a favor de começar no palco, com o pé no chão, fazendo aula, lendo, estudando. Às vezes sinto um pragmatismo por parte de alguns."

Em São Paulo e no Rio de Janeiro existem cerca de 65 cursos de formação de atores, entre os de nível superior e de nível técnico, de acordo com o Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos) dos dois Estados. Para formar um ator, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) exige uma carga horária mínima de 800 horas para os cursos de nível técnico e 4.860 horas para os cursos de graduação. Aprovado pelo curso, ou graduado na instituição de nível superior, o aluno recebe a documentação necessária para dar entrada no registro de ator no Sated do Estado a que pertence.

Algumas escolas são especializadas em interpretação para TV, como o Escola de Atores, do diretor Wolf Maia, e o Studio Escola de Atores, onde se formaram atores como Thiago Lacerda e Bruno Gagliasso. Para Sonaira D‘ávila, diretora do Studio Escola, grande parte das pessoas que entram no curso buscam um retorno financeiro rápido, além do sonho em fazer televisão. "As pessoas que me procuram têm a necessidade de, em dois anos, comprar carro, casa e sustentar a família."

D’ávila diz ainda que é fácil ingressar na televisão, desde que se entendam as regras do mercado. "O aluno pode encarar a carreira como um plano de negócio, mas tem que saber que é preciso seguir os passos certos, entender as regras do jogo. É um investimento caro, mas que dá resultados."



BLOG

BATE-PAPO PRÊMIOS ESPECIAL
Patrocínio

Content on this page requires a newer version of Adobe Flash Player.

Get Adobe Flash player


Philip Morris
AMBEV


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).