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Novo em Folha 41ª turma
21/06/2006

Íntegra de entrevista: João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Antes de "Selvagem?", vocês lançaram o disco "O Passo do Lui" (1984), que foi um sucesso absoluto e também fizeram uma apoteótica apresentação no Rock in Rio. Por que a mudança de sonoridade em "Selvagem?"? O que levou a essa nova experiência sonora?

Na época, ficamos empolgados em ousar, não repetir a fórmula do "Passo do Lui". Isso orientou muito o caminho seguido. O Herbert estava sempre querendo mudar, não se acomodar. Ele sempre foi muito preocupado com o por vir, sempre puxou a gente para novos planos, novas referências, e "Selvagem?" cristalizou isso muito bem.

Vocês não tiveram medo de uma recepção fria por parte dos fãs e da imprensa?

Não. A gente até ironizava como os caras da gravadora iriam ter que engolir aquele disco, aquela capa tosca... A gente estava apostando todas as nossas fichas de novo, se desse errado, voltaríamos para a Universidade e pronto.

Quanto tempo durou a gravação do disco?

No final de 85, já estávamos burilando o repertório. Já havia "Alagados", "Melô do Marinheiro", o instrumental de "A Novidade" (a letra, o Gil fez meses depois). Fizemos uma pré-produção em fevereiro de 86 e gravamos em abril, não levou mais que um mês para terminar.

Qual a importância que o produtor Liminha teve para esse projeto?

Ele foi fundamental. Entendia tudo que a gente queria, fez a ponte com o Gil para ele gravar com a gente, tocou, mixou... Se não fosse ele, não teria ficado tão bom.

Qual foi a primeira música do disco a ser gravada? E a última? Qual foi a que demorou mais?

Se bem me lembro, gravamos "A Dama e o Vagabundo" primeiro. Não temos muita lembrança de maiores detalhes. Foi tudo muito rápido e dinâmico. Não gostamos de gastar muito tempo no estúdio, queremos ver tudo pronto logo, mesmo naqueles tempos. "Alagados" foi a música que abriu o disco, deve ter ficado pronta primeiro para mandar para as rádios.

Quais foram as principais influências da banda para a gravação desse disco?

Yellowman, reggae de todo tipo, bandas afro como Sparrow e Toure Kundá, nomes como Fela Kuti, Ille Ayê, Gil...

E qual foi a influência que "Selvagem?" teve na sonoridade da banda até os dias de hoje?

Quanto mais tosco, melhor!

Houve uma sensível mudança nas letras desse disco em comparação com os anteriores. Em faixas como "Alagados" e "A Novidade", as letras estão bem mais politizadas. Por que essa mudança nas letras das músicas?

São momentos distintos... Quando a inspiração bate, o Herbert escreve o que sente, seja lá qual for o tema.

Quando lançaram o disco, vocês tinham alguma idéia de que ele iria marcar tanto o Rock Brasil?

Não.

Vocês mudariam alguma coisa no disco?

Ao contrário do que foi a nossa experiência no primeiro disco, "Cinema Mudo", que achamos muito fraco, não mudaríamos nada no "Selvagem?".

Vocês consideram ‘Selvagem?‘ o melhor disco da banda? Consideram o mais influente? Quais artistas você acha que claramente foram influenciados pelos Paralamas?

É um disco especial, cada época traz uma lembrança, são 20 anos desde que ele saiu. Ficamos surpresos até hoje ao ver o quanto ele foi longe. Só isso, sem maiores presunções...

O que você acha do disco "Dois", da Legião Urbana?

Muito bom, creio que o Bi e o Herbert também achem.

O que você acha do disco ‘Cabeça Dinossauro’, dos Titãs?

Excelente!

Há mais alguma curiosidade, detalhe sobre a gravação do disco que você gostaria de contar?

Imagina a nossa emoção ao ver o Gil gravando "Alagados"... Ele estava super gripado, tomou um chá e uma colher de mel e mandou ver assim mesmo. Depois, fez aquela letra sensacional de "A Novidade", em cima da melodia cantarolada que o Herbert mandou. Ele escreveu a letra em cima certinho, respeitando as divisões, a métrica. Foi demais. O Gil recebeu a fita (era fita cassete na época!) em Florianópolis, onde estava fazendo shows. Ele passou a letra para o Herbert pelo telefone, no estúdio. O Herbert escrevia e chorava de emoção... Quando ele acabou de escrever, gritava: "olha só que coisa linda!".
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