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Novo em Folha 41ª turma
21/06/2006

Dinossauros do rock brasil influenciam novas cabeças

Integrantes de Paralamas do Sucesso, Titãs e Legião Urbana não imaginavam que os álbuns fossem fazer parte da história da MPB

Lançados em 1986, os discos "Selvagem?", "Cabeça Dinossauro" e "Dois" são citados como referências por duas gerações de artistas, de Skank a CPM 22

LUIZ FELIPE CARNEIRO
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Você acha que "Selvagem?" antecipou o mangue beat? O que você ouve na música de Charlie Brown Jr. e Raimundos que remete ao som de "Cabeça Dinossauro"? Você sabia que, das 12 músicas do álbum "Dois", 9 foram regravadas por outros artistas?

Os três discos, que completam 20 anos agora, foram fundamentais para a música que é feita hoje no país, analisa o jornalista Ricardo Alexandre, autor do livro "Dias de Luta - O Rock e o Brasil dos Anos 80" e editor da revista "Bizz".

"O ‘Selvagem?’, dos Paralamas, rompeu com o clichê de rock importado de guitarras que vigorava e reposicionou a música jovem brasileira. ‘Cabeça Dinossauro’, dos Titãs, leva a agressividade como um canal de manifestação, que era um dado inédito até então. No ‘Dois’, a Legião Urbana, pela primeira vez, adota a postura do não-marketing, de bandas incomodadas pelo sucesso", afirma o jornalista.

Guilherme Bryan, autor do livro "Quem Tem um Sonho Não Dança - Cultura Jovem Brasileira nos Anos 80", concorda. "Com esses discos, os Paralamas e a Legião mostraram que não eram uma cópia do The Police e dos Smiths. Eles podiam ir além, com uma identidade própria", diz.

Segundo o baterista João Barone, os Paralamas do Sucesso só queriam fazer algo diferente e não repetir a fórmula do disco anterior, "O Passo do Lui". "A gente apostou todas as nossas fichas de novo. Se desse errado, voltaríamos para a universidade e pronto", afirma.

Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana, não esperava muito do disco. "Estávamos diante de um grande desafio. Eu não tinha a menor noção do possível resultado daquela experiência. Queria aprender a tocar o melhor possível aquelas músicas."

O músico ressalta uma especial importância de "Dois" na história da banda. "A gente se acostumou com o ambiente no estúdio, como se fosse a extensão de casa. Acreditamos que era realmente possível fazer música e discos a partir desse disco", diz.

Apesar de acreditarem no trabalho, os Titãs passaram por alguma resistência inicial. "Estávamos muito convictos, e a gravadora parecia acreditar na gente, mas algumas pessoas da imprensa levaram muito tempo para entender e valorizar o disco", diz o tecladista e vocalista Sérgio Britto.

Segundo o músico, foi nesse disco que a banda inventou o seu vocabulário musical. "Já fizemos muita coisa e não somos mais só a banda do ‘Cabeça Dinossauro’. Apesar disso, devo confessar que, quando falamos em fazer um arranjo ou uma canção ‘à la Titãs’, é sempre nele que pensamos."

Influências

Os frutos dos três álbuns são colhidos até hoje. "Se formos considerar a diversidade do rock brasil, a gente consegue ver reflexo em bandas como o Skank, que tem o DNA do que se praticou nos anos 80. Eu vejo uma linha evolutiva que vai até Los Hermanos", afirma Ricardo Alexandre.

John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, destaca "Selvagem?". "Ele teve um impacto singular na época. Vários amigos acharam o disco ‘brasileiro’ demais. Na verdade, esse foi o detalhe que o tornou tão especial."

Opinião parecida tem Henrique Portugal, tecladista do Skank. Segundo ele, as misturas musicais desse disco dos Paralamas "seriam a tônica da geração dos anos 90". "Ele acabou com a ‘negação da música brasileira’, que era muito forte nas bandas dos anos 80. Para mim, mostrou que era possível fazer sucesso sem ter que necessariamente parecer um inglês encapotado num país tropical", afirma.

Bandas como Charlie Brown Jr. e Raimundos, ressaltam o trabalho dos Titãs, que batia de frente em instituições como a família, a igreja, a polícia e o Estado. "É um clássico, em que ficou claro que a irreverência, a displicência, a seriedade, a anarquia e a musicalidade podiam caminhar juntas no rock nacional", diz o vocalista do Charlie Brown Jr., Chorão.

Para Digão, vocalista e guitarrista dos Raimundos, o álbum "foi o divisor de águas do rock brasileiro".

O trabalho da Legião Urbana foi o disco de rock que mais influenciou Toni Garrido, vocalista do Cidade Negra. "Eu viajava em cada palavra do Renato Russo." Canções como "Tempo Perdido" representavam um tipo diferente de composição no rock da época, na opinião de Vanessa da Mata. "Acho que nascia aí uma construção original de um tipo de rock brasileiro", conclui.

O baterista Japinha, do CPM 22, acha que vai ser muito difícil alguém escrever letras tão boas quanto as desses discos no rock nacional. "Até hoje quando vamos compor, nos lembramos de trechos delas e adoramos quando percebemos que nos remetemos inconscientemente a essas bandas."

Esses discos fizeram com que o músico Otto, que era da banda Mundo Livre S/A, uma das precursoras do mangue beat no início dos anos 90, não precisasse se curvar à música estrangeira. "Vou fazer sempre música brasileira, mesmo que rock, mesmo que pesada, mesmo que contemporânea e urbana."
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