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Novo em Folha 42ª turma
08/12/2006

Má distribuição de lixeiras afeta as principais vias de SP

Faltam pelo menos 100 mil lixeiras nos locais mais movimentados; há ruas cheias de cestos ao lado de outras sem nenhuma lata de lixo

Reportagem da Folha percorreu 36 km para quantificar as papeleiras; problema afeta de regiões nobres a populares

DANIELA ARRAIS
FELIPE BÄCHTOLD
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Faltam pelo menos 100 mil lixeiras nas áreas de maior circulação de pedestres de São Paulo. As 40 mil existentes estão mal distribuídas, e estima-se que um quinto delas sejam depredadas no próximo ano.

Em algumas ruas da cidade, como a Joaquim Floriano (zona sul), pedestres têm que andar até 733 m para se desfazer do lixo. Na São Caetano (centro), eles nem têm a opção --nos cerca de 1.100 m de extensão de via não há lixeiras.

Das 17 vias e avenidas comerciais apontadas pela Fecomércio-SP como as principais, pelo menos 10 sofrem com falta de lixeiras. O problema afeta desde os quarteirões de lojas de luxo dos Jardins até centros de comércio popular, como o largo 13 de Maio (zona sul), por onde circula 1 milhão de pessoas/dia.

A reportagem da Folha percorreu 36 km em ruas de grande circulação de pedestres no centro e nas zonas norte, sul e oeste, para quantificar as lixeiras da cidade, no período entre 16 e 30 de novembro.

Nesse percurso, foram encontradas 493. Seguindo os conselhos de especialistas, seriam necessárias 1.200. O resultado é uma amostra do que acontece nas áreas mais freqüentadas por pedestres na cidade.

Em 2002, a prefeitura estimou que seria necessário comprar 140 mil papeleiras --nome técnico do equipamento. Foi aberta licitação, mas a empresa responsável "não teve fôlego" para cumprir as metas, segundo Giuseppe Pagano, diretor do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana).

Para fazer a instalação, a prefeitura se baseia na observação dos técnicos. Quanto maior o fluxo de pessoas em determinado local, maior deve ser a quantidade de lixeiras, embora não haja uma regra para a distância máxima entre elas.

A regulamentação fala apenas na distância mínima: em ruas comerciais, pontos de ônibus, escolas e praças, elas não podem estar a menos de 25 m uma da outra. Para os demais lugares, o estipulado é 50 m.

Já estudiosos do assunto recomendam que, em locais movimentados, haja uma lixeira a cada 50 m de calçada.

Mas nem a regra oficial nem o padrão recomendado são seguidos nas áreas visitadas pela reportagem da Folha.

Nos Jardins, ruas com equipamento em todas as quadras, como a Santos e a Augusta, são rodeadas de vizinhas sem lixeiras (veja mapa abaixo).

A rua 25 de Março, pólo comercial da cidade, tem uma lixeira a cada 81 m, quantidade que não dá conta do lixo produzido pelos 400 mil pedestres diários. Em uma tentativa de compensar a falta de lixeiras, a equipe de varrição limpa a rua até dez vezes por dia.

Na Santa Ifigênia (centro), que concentra lojas de produtos elétricos e informática, não há lixeiras em 115 m de seus 750 m. Papéis, plásticos, restos de comida e panfletos se espalham pela rua.

Com problemas freqüentes de alagamento, a rua Direita, também no centro, tem uma única unidade em 300 m. "A gente demora quarteirões para achar lixeira. Se a gente não vê, joga o lixo no chão", diz a vendedora Mônica Barros, 25.

Aproveitando a lacuna, empresas instalam por conta própria o equipamento, sem permissão da prefeitura, para explorar publicidade. Por serem irregulares, alguns acabam arrancados pela prefeitura.

Outras procuram resolver o problema em parceria com o poder público. Na rua João Cachoeira, no Itaim-Bibi, a associação de lojas local comprou 64 lixeiras, fixadas em 500 metros dos 1.700 metros da via.

"Uma rua não pode ter lixo, senão não atrai o consumidor", diz o presidente do Conselho de Ruas Comerciais da Fecomércio, Felippe Nauffel.

Pela manutenção, que inclui o trabalho de três garis, cada lojista desembolsa R$ 80 por mês. Nos outros 1.200 metros da rua, não é possível encontrar uma única lixeira.

Depredação

Além de suprir a carência, a prefeitura precisa repor as lixeiras destruídas, cerca de 20% por ano, segundo estimativas oficiais. Na praça Silvio Romero, no Brás, a Subprefeitura da Mooca teve que reinstalar três vezes as 17 unidades do local, desde o ano passado.

Há casos tão críticos e recorrentes que a opção é aumentar a varrição, diz o coordenador de projetos e obras da subprefeitura, Francisco Ricardo.

Para Gilson Lameira, arquiteto e ex-diretor do Limpurb, o sistema de instalação, manutenção e higienização de lixeiras é difícil de operar. "A vida útil [da papeleira] é muito curta, o índice de depredação é muito alto. Não adianta encher [a rua] de lixeira, depois ter apenas um terço delas e, então, levar mais três anos para fazer uma nova compra."

Outra fonte de problema são os contratos com as empresas de limpeza. No caso da compra frustrada na gestão Marta Suplicy (PT), em 2002, que levou ao atual déficit de 100 mil latas de lixo, houve vários entraves.

Em primeiro lugar, o número de 140 mil foi estabelecido sem que se soubesse quantas unidades havia nem qual seria a demanda, segundo o então responsável pela compra.

Oito meses depois, o edital foi suspenso pelo Tribunal de Contas do Município. Segundo a prefeitura, a empresa vencedora, Ecopav Construção e Pavimentação, não tinha capital nem mão-de-obra suficientes.

Já a empresa diz que a presença de camelôs impedia a instalação dos equipamentos e que não recebeu da prefeitura o mapa das tubulações, o que dificultava o serviço, entre outros entraves burocráticos.

Foi a última tentativa de implantar um sistema de manutenção permanente de papeleiras. Atualmente não há uma rotina na prefeitura de compra anual ou um serviço de substituição das danificadas.

Em 2006, depois de três anos sem novas lixeiras, a cidade fez uma compra emergencial de 35 mil para as 31 subprefeituras. Na Sé, das 5.000 encaminhadas, 2.600 foram instaladas até o início de dezembro.

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