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Novo em Folha 42ª turma
08/12/2006

Opiniões de especialistas ouvidos pela Folha em relação ao problema das lixeiras em São Paulo:

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Gilson Lameira, urbanista e ex-diretor do Limpurb

Quantas lixeiras são necessárias para a cidade

Não existe nenhum estudo científico em São Paulo sobre o número de lixeiras necessário para a cidade. Embora isso não seja difícil de fazer, é muito trabalhoso e a academia nunca se interessou.

É preciso quantificar a partir de necessidades objetivas. Entre dois pontos de ônibus, [deveria haver] uma lixeira a cada 100 m. Em centro comerciais, não se pode deixar de colocar uma lixeira a cada 50 m e perto das esquinas. É possível montar esse planejamento, mas é preciso conhecer a cidada amiúde.

A tentativa de regulamentar lixeiras em São Paulo em 2002

Fizemos um contrato de prestação de serviços de lixeiras. A gente pagava por lixeira/mês funcionando. A empresa [Ecopav] ia colocando as lixeiras, todo fim de mês a gente fechava a medição e pagava pelas lixeiras que estivessem funcionando. Lixeira que não estava funcionando, a fiscalização notificava. Mas a empresa era pequena e não teve fôlego financeiro para cumprir o contrato. Foi considerado que a empresa agiu de boa fé.

Dificuldades da prefeitura de instalar lixeira

Em São Paulo, quando é uma coisa muito necessária, vem uma gestão, compra tantas lixeiras e no fim da gestão já não existe mais ou sobra uma. Em certas regiões da cidade, você encontra três ou quatro tipos de lixeiras remanescentes. Não existe um trabalho sistemático e é uma coisa extremamente necessária.

A vida útil [de uma lixeira] é muito curta, o índice de depredação é muito alto. Então não adianta encher [as ruas] de lixeira e depois, no fim do ano, ter apenas um terço delas colocadas. Aí leva mais três anos para comprar mais lixeiras. O problema tem que ser visto a partir do ponto de vista de ter as lixeiras funcionando, não de quem compra ou de quem deixa de comprar. É impressionante como é depredado, as pessoas arrebentam, tocam fogo. É um ponto cego do sistema. É um serviço muito difícil de operar.

Marco Antônio de Almeida, engenheiro civil e superintendente da ONG Viva o Centro

Uso inadequado das lixeiras

A capacidade de geração de lixo [pelo pedestre] é relativamente baixa. O que nos vemos hoje é a transformação da lixeira num depósito de lixo. Algum bar ou loja leva sacos de lixo para pôr na lixeira, que não é dimensionada para isso. Como não temos um sistema eficiente de coleta do lixo ou de fiscalização que impeça as pessoas de colocarem esse lixo na lixeira ou no pé da lixeira.

Muitas vezes você não consegue chegar na lixeira de tanto saco de lixo. Essa lixeira vai mudando completamente a sua função e vai quebrar.

Políticas públicas para limpeza urbana em SP

Existe um problema que é a pulverização da limpeza. Há a empresa que recolhe o lixo, a que faz a varrição, a que faz a lavagem. O correto é que uma determinada área tivesse uma empresa encarregada da limpeza. Ela tem que recolher, tem que varrer. Se aquela área está suja, [uma das empresas responsáveis] diz: “Ah, mas está suja porque o outro não varreu”. É pulverizado de tal forma que fica quase impossível de cobrar a responsabilidade. Quase sempre um está jogando a responsabilidade para o outro, enquanto isso deveria ser um processo integrado.

Em vez de ter cinco empresas, cada uma cuidando de uma coisa, seria melhor cada uma receber a totalidade das incumbências, manter limpo. Ela põe a lixeira, tira o lixo, faz a varrição, recolhe. E é cobrada por área estar limpa. E ela própria faz a fiscalização se o cidadão está agindo corretamente, colocando lixo na hora.

Cláudia Ruberg, urbanista doutora em gestão de resíduos sólidos pela USP

Como manter a limpeza nas ruas da cidade

A ordem estimula a ordem, a limpeza estimula a limpeza. Se o pedestre vê um ambiente que já está sujo, ele não se estimulado a procurar uma lixeira. Ele joga ali mesmo. Se ele vê um ambiente completamente limpo, ele é estimulado a não jogar. Essa ordem, essa limpeza não é apenas uma questão de ter resíduo ou de não ter resíduo.

O Metrô conseguiu manter um padrão de quem chega nele encontra sempre limpo, organizado, com boa manutenção. A pessoa que faz alguma coisa errada vai se sentir constrangida. Todo mundo vai constrangê-la. A estética é um fator importante no ambiente público. É um estímulo à conservação.

Não é o fato de ter a lixeira que vai garantir que o cara vai colocar o lixo na lixeira. Se ele está acostumado a se desfazer do resíduo na hora em que foi gerado --se eu peguei a minha bala, abri a minha bala e eu imediatamente já quero me desfazer do papel da bala-- ele pode ter uma lixeira na frente dele que ele vai jogar aqui do lado.

Desperdício de investimento público no setor

A quantidade de vezes que o varredor passa é absurda. A própria população, ao ver que [a rua] está sendo varrida, ela não colabora, suja mais ainda. A partir do momento em que você joga uma coisa fora, alguém vai ter que tirar aquilo dali. E isso vai demandar um esforço. Tem que ter alguém que varra. Mas, se você não jogar o lixo ali, o cara, em vez de varrer, ele vai poder limpar, embelezar a cidade. Ele pode ser remanejado.

Às vezes, certos serviços de carpina e de pintura acabam demorando para ser feitos porque o cara tem que estar sempre suprindo a varrição, porque tem gente degradando. É um aspecto que a pessoa não pensa, ela diz “não é problema meu”. Mas todo mundo paga. São os impostos que a gente paga.

O sistema de resíduos como um todo é muito caro. O caminhão que sai da zona sul vai descarregar na zona leste. Ele faz um percurso de 54 km. [O sistema] não tem como atender 100% da necessidade, você tem que priorizar. É preciso ter um uso mais racional, não aleatório. Se o sistema for padronizado, vai haver lugar que precisa de muito e não tem o suficiente e outros que têm pouco e não têm.

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