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Novo em Folha 42ª turma
03/07/2007

Diário de Bordo - De volta a Angola

FERNANDO BUENO
GUSTAVO GOUVEIA
da EQUIPE DE TREINAMENTO

13/6
No dia 13/06 começamos realmente a ver que nossa pré-pauta poderia dar certo. Dias antes ainda buscávamos contatos para poder fazer a matéria, que já tinha sido mudada duas vezes. Na primeira, pensamos em falar sobre os refugiados colombianos no Brasil, devido ao seu incrível crescimento na Amazônia. Mas saíram diversas matérias sobre o assunto e não tínhamos um gancho para "vender" a idéia. Outra pauta que surgiu foi dos iraquianos refugiados, mostrar como eles viviam no Brasil, a situação do Iraque e os problemas enfrentados na vinda ao Brasil. Também não deu certo, porque essa reportagem já tinha saído na Folha meses atrás.

Como não queríamos deixar de fazer uma matéria sobre refugiados, decidimos que nosso foco seriam os angolanos. O gancho para a reportagem foi o programa de repatriação do Acnur, que teve início neste ano.

Mas, para dar certo, tínhamos que achar personagens, o que foi, sem dúvida, o maior problema durante toda a apuração. Os refugiados não gostam de se expor, devido à delicada situação em que se encontram.
Durante dias tentamos combinar uma entrevista com uma refugiada angolana. Conseguimos marcar um encontro depois de muita insistência, pois ela dizia não ter tempo, estava em semana de prova e precisava estudar.

Na quarta-feira (13), fomos à faculdade onde estuda a refugiada para a entrevista, que estava prevista para as 13h30. Chegamos no horário combinado e fomos procurá-la, mas ela não se encontrava. Esperamos meia hora até que decidimos ligar para saber o que tinha acontecido. Ela nos disse que tinha tido alguns problemas, mas logo chegaria e era para esperarmos perto do metrô, que fica ao lado da faculdade. Mais uma hora de espera e alguns minutos no celular para entendermos onde ela estava.

Finalmente nos encontramos e fizemos a entrevista, que se desenrolou bem.

Nós tínhamos planejado mais de 20 perguntas em ordem, mas, durante a conversa, misturamos tudo. O resultado foi bem melhor, pois tivemos que improvisar e a entrevista fluiu.

Estávamos apreensivos na hora de iniciar a conversa, pois o tema era delicado. Abandonar seu país à força, perder amigos e familiares, enfrentar uma viagem difícil e ter que se integrar em uma nova sociedade são situações que todos os refugiados passam. Mas acredito que fomos bem e tivemos tato no momento em que as perguntas eram mais delicadas.

Saímos contentes com o resultado, mas nem tanto quando decidimos ouvir a fita. A gravação foi feita, mas era de péssima qualidade. Quase não dava para entender o que a entrevistada dizia. A entrevista foi feita dentro de uma sala de aula, onde o eco era muito forte. Aprendemos que gravar em uma sala de aula vazia não é um bom negócio.

14/06
Nesse dia a pauta ainda estava caminhando muito devagar. Após descobrirmos o telefone do Consulado de Angola no Rio de Janeiro (que não consta no site), fomos informados de que devíamos enviar nossa demanda por email, que ninguém iria falar por telefone conosco. Fazer o quê? Enviei o e-mail...

Também estava impossível falar com o Acnur Angola através do número que o Acnur Brasil me deu. Como o site do Acnur Angola também não tinha telefone, ligamos na sede do Acnur em Genebra.

Ao ligar para Genebra, passaram uns três números diferentes, inclusive o que ninguém atendia.

Na primeira tentativa, conseguimos ligar. Descobrimos então que o assessor de imprensa, Manuel Cristóvão, não trabalhava mais lá, foi para a iniciativa privada, petróleo. Pedimos encarecidamente para falar com alguém, pois diziam que não tinha ninguém da comunicação.

Passaram então ao chefe da Unidade de Programas do escritório de Luanda. O senhor Henrique foi muito simpático e se mostrou muito solícito. Após eu (Fernando) me apresentar e explicar minhas necessidades, ele me pediu que enviasse um e-mail. Como imaginei que o e-mail era só para ele, não me apresentei novamente.

Aconteceu que ele encaminhou meu e-mail para os funcionários do Acnur em Angola e para o representante e o assessor do Acnur no Brasil. Algumas horas depois, recebo uma resposta de outro funcionário do Acnur Angola, que, de tão mal-educada, acho que ele enviou para mim sem querer, assim como para todos os que estavam copiados no primeiro e-mail.

O e-mail dizia que eu parecia ser "um respeitável zé ninguém" e que o seu escritório, na cidade de Luena, não iria atender os pedidos "desse tipo de pessoa", como afirmou duas vezes.

O sangue esquenta, mas o importante é primar pela educação. Respondi educadamente, me apresentando e explicando a minha pauta, mas sem pedir nada. No dia seguinte, ao chegar na Redação, fico sabendo que o sr. do email havia me ligado.

Fiquei apreensivo.

Ligo meu PC e vejo que ele me mandou um e-mail, muito educado, pedindo desculpas.

Respondi que as desculpas foram aceitas, que isso era passado, e que eu esperava que pudéssemos trabalhar juntos. Na seqüência ele me liga, pede desculpas novamente e me concede uma entrevista de uma hora, além de agendar para a semana seguinte entrevista com três repatriados angolanos. Como ele está no leste do país, os repatriados haviam fugido para a Zâmbia durante a guerra.

Sendo assim, tive que entrevistá-los em inglês. Os três eram jovens, haviam saído de Angola no final dos anos 80 e diziam não saber falar português. Tentei forçá-los um pouco a falar em português, o que me fez perceber que eles não só sabem falar, como têm um ótimo vocabulário. Creio que falte confiança.

Mas esse não é o fim da novela dos e-mails. Dias depois o assessor do Acnur Brasil também se desculpou, disse que o representante do Acnur Brasil deu ordens para que ele pedisse desculpas, outro funcionário disse que a Folha devia ter o mesmo tratamento dado a BBC.

20/06
Dia 20 de junho é o dia mundial do refugiado. A data infelizmente coincidiu com a semana de fechamento da reportagem. Infelizmente, pois todas as pessoas que trabalham na área estavam ocupadas com os eventos programados para marcar a data. Às 13h o representante do Acnur no Brasil e a coordenadora-geral do Conare deram uma coletiva.

Saímos correndo da prova de seleção para redator de Mundo e chegamos na coletiva um pouco atrasados.
Durante a entrevista não foi possível entrar nas questões relativas à nossa matéria, pois a pauta era o fato do Brasil receber 96 refugiados palestinos, o maior grupo de refugiados que o país recebe de uma só vez. Sendo assim, o assessor de imprensa do Acnur falou que, para entrevistarmos o Varese, tínhamos que ir no lançamento de um livro sobre o tema, realizado na Fnac às 19h30.

Da coletiva voltamos à redação. Até o lançamento do livro tínhamos que terminar a prova de Mundo, continuar tentando falar com o Consulado de Angola e seguir escrevendo o texto.

Às 20h saímos da Folha e chegamos à Fnac às 20h30. Após uma mesa redonda e a apresentação de um coral de refugiados, pudemos entrevistar o representante do Acnur no Brasil, por volta das 21h30. A entrevista foi muito boa e durou cerca de meia hora. Enquanto o Gustavo cuidava do gravador, eu anotava o principal no bloquinho. O sistema se mostrou muito eficiente. Como já tínhamos um bom registro escrito, ficou fácil de encontrar os trechos do nosso interesse na fita.

27/06
Após dois e-mails e 13 dias de tentativas de contato quase diárias com o consulado, finalmente nosso pedido foi atendido. Primeiro recebemos um e-mail da chefe de gabinete como se já tivessemos sido atendidos. Imediatamente ligamos para lá e falamos com a chefe de gabinete, dizendo que ninguém tinha ligado. Ela havia dito no dia anterior que assim que possível o vice-cônsul entraria em contato. Após explicar que continuávamos na mesma, ela pediu um momento e transferiu a ligação ao vice-cônsul, que então respondeu às nossas perguntas.

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