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Novo em Folha 42ª turma
05/07/2007

Diários de Bordo - O diário da Johanna

JOHANNA NUBLAT
MARIANA BENEVIDES
da EQUIPE DE TREINAMENTO

A idéia da minha pauta, dos laptops das escolas públicas, surgiu de repente - como surgem quase todas as pautas. Mais ou menos simultaneamente, estava fazendo uma matéria sobre aplicação de computador nas escolas (particulares e públicas) e a gente ficou sabendo do prêmio para a melhor matéria sobre política pública.

Depois que eu descobri o que era política pública, achei que seria bacana fazer uma pauta sobre o UCA (Um Computador por Aluno). Comecei a ler tudo o que eu achava sobre o projeto. Só nos últimos dias é que eu descobri como eu sabia pouco sobre o projeto e que o que eu sabia era muito inocente.

Um exemplo disso é que comprei - pelas últimas semanas - uma história que estava mal contada.

Vou tentar explicar. Meu contato principal era numa das cinco cidades. Eu aprendi quase tudo com essa fonte e ela me contou de um problema que tinha dado no começo e que o motivo era um mal entendido. Só no dia 19 de junho, quase um mês depois da primeira versão, eu ouvi bastidores e entendi que o mal entendido estava era mal contado.

Eu descobri isso na minha viagem para o Rio de Janeiro. E aprendi mais uma. É verdade que a gente descobre as coisas durante as pausas da reportagem. Fui do Rio para Piraí de carona com uma professora e conversamos a viagem toda. Ouvi alguns bastidores, mas a maior parte foi mesmo informação básica para meu texto.

Lá chegando, depois de horas juntas, chegamos a detalhes que me ajudaram muito. Daí eu não sei se chegamos nessa parte porque o primeiro assunto já tinha acabado ou se foi porque ela ficou mais relaxada comigo.

Mas, vamos voltar aos primórdios da minha pauta.

Lá pela segunda semana dedicada exclusivamente à pauta final, eu ganhei uma companheira. A Mari. Não podia ter melhor presente. Ela estava cambaleando na pauta dela - obre setor aéreo, ninguém respondia aos pedidos de entrevista dela, um drama só.

Um dia, a Ana Estela me pediu para convidar mais alguém pra minha matéria e, assim, poderíamos ir a todas as cinco cidades do piloto.

Não achei ruim nem bom nessa hora. No dia seguinte, fiz o convite pra Mari. Mais um dia e ela aceitou. Tinha tido experiências ruins de dividir pautas durante o treinamento, mas, dessa vez, que tinha tudo pra dar encrenca (tempo mais longo e mais tensão), foi só alegria. Fizemos uma dupla perfeita. Ela prática e desorganizada, eu organizada e confusa.

Ela foi pro Sul, eu pra Brasília e Rio. Ela acrescentou muita coisa boa nos meus pensamentos iniciais. E ela tem uma coisa que é uma beleza no jornalismo (pena que eu não consigo raciocinar assim): "Peraí, o que, dentro disso tudo, é mais interessante para o leitor? Se eu estivesse lendo, o que ia mais chamar minha atenção?".

Depois desses primeiros dias juntas, os problemas começaram a surgir. A viagem dela estava programada para a quinta (dia 14 de junho). Na quarta, ela ligou para a professora do Sul e ficou sabendo que não ia ter aula na sexta e que a viagem dela seria inútil.

Ela me ligou: "Tenho uma péssima notícia". Calma, Mari. Daí eu liguei pra professora, disposta a dar uma dura. Mas foi fácil, ela reprogramou a sexta e lá se foi a Mari. Uma viagem superprodutiva.

Outro telefonema fatal da Mari veio na terça (dia 19). Eu estava voltando de Piraí para o Rio e ela ligou: "Tenho uma notícia ruim, mas nenhuma boa pra compensar". Uma professora de São Paulo tinha acabado de derrubar nossa visita à escola de SP no dia seguinte.

Essa foi difícil. Armei um esquema de guerra para o dia seguinte. Ia ligar (brava) pra Secretaria de Educação e fincar o pé. Quero minha visita. Ia ligar para o secretário de Ensino à Distância do MEC (consegui na terça mesmo o celular dele) e chorar uma ajudinha. Mas aí, deu tudo errado nesse dia. As bruxas estavam soltas.

Cheguei cedo no jornal, feliz e contente e com o esquema de ação na cabeça. Fui falar com a Ana Estela e ela já puxou o telefone pra ligar pra SME. Me mandou ir pra escola, mesmo sem autorização. Aí eu comecei a argumentar: não vai adiantar ir sem autorização da secretaria, eu não vou passar da porta, ninguém da USP vai com a gente, não vai dar certo. Depois de algumas negativas minhas, ela fechou a cara e disse: "Então não vai mais, ficamos sem a escola de SP na matéria".

Eu disse ok, eu vou. "Não, não vai mais, você não disse que não adianta?" Resolvi ir, mesmo depois dessa resposta. Mesmo achando que era perda de tempo. Mesmo que a Mari concordasse comigo. Lembrei de uma frase que ela tinha dito na véspera: "Se você não obedece às ordens do seu editor, demita-se".

Fui. No meio do caminho me ligaram da SME dizendo que eu poderia entrar na escola. Ana Estela estava certa. Mas tem um detalhe, os computadores tinham sido retirados na véspera. Eu não estava errada.

Hoje, quinta (22), isso ainda é uma pendência. Ainda estamos tentando que os computadores voltem para lá a tempo de nossa matéria sair.

Outro problema foi a enrolação em Brasília. Já tem três semanas que me dizem, duas vezes por semana, que a rede deve ficar pronta na segunda e que os laptops estão chegando nas salas de aula.

Da primeira vez caí e fui lá pra Brasília. Foi produtiva a viagem, mas não vi os laptops na classe. Das outras vezes, não caí. A conversa do momento indica que eles chegam na próxima segunda (25). Let's see.

Deixei meu diário abandonado na última semana (hoje é quinta, 28). Tenho que pedir desculpas, mas a correria aqui foi muito grande.

Vou começar por Brasília. Toda minha esperança de conseguir voltar àquela cidade linda ainda no treinamento foi por água abaixo. Ou melhor, pela rede afora. A escola não conseguiu resolver os problemas técnicos.

Já São Paulo possibilitou um avanço na nossa matéria. Os secretários (municipal e do MEC) conversaram e os laptops voltaram para a sala de aula. Conseguimos autorização até para fotografar, quem diria!? E a foto virou nossa foto principal.

Ontem, fechando o texto final aconteceu uma coisa engraçada. Depois de mil recortas e colas do texto (que mais parecia um Frankstein), eu e a Mari entramos num conflito sem saída. Eu queria um determinado sublide e ela queria que esse parágrafo fosse para o pé. Até esse momento, nunca tínhamos brigado e, dessa vez, era um impasse.

Chamamos a Ana e explicamos a situação. Ela riu (claro) e falou o que ela achava.

Hoje o maior problema foi com o fechamento da página. Arte, foto, legenda... nos 45 do segundo tempo descobrimos que nossa foto do expediente estava com uma resolução baixíssima. Em cinco minutos, a Ju tirou nossa foto, descarregamos, tratamos e exportamos. Ufa! O caderno saiu com só 20 minutinhos de atraso.

E o da Mari

A minha idéia inicial era fazer uma pauta sobre políticas públicas para o setor aéreo. Um professor do Ibmec entendido no assunto comentou comigo que havia planos para construção de mais um aeroporto comercial grande no Estado de São Paulo. Achei que podia levar a pauta por esse lado, desde que conseguisse apurar algo de concreto que indicasse que esse aeroporto realmente seria feito.

Tentei então falar com o presidente da Infraero, com o secretário de Transportes do estado de SP e com o comandante do Cindacta 1.

De segunda a quarta da primeira semana (dias 11, 12 e 13 de junho), fiquei tentando falar com eles pelo telefone. Nenhum deles podia atender, as secretariás diziam que retornariam a ligação e nada...

Na terça, dia 12, a Ana Estela me sugeriu entrar na pauta dos laptops com a Johanna, que teria coisa para duas pessoas fazerem.

Eu achei que poderia ser uma boa entrar na pauta dela, que já tinha uma pesquisa relativamente avançada, mas ainda estava esperando as fontes de setor aéreo me ligarem para eu ver se daria realmente para fazer a matéria sobre o novo aeroporto em São Paulo. Mas já fui começando a trabalhar com a Joh...

Na quarta, dia 13, cheguei e a Ana me falou que eu iria, no dia seguinte, para Porto Alegre, conhecer a escola que usa os laptops lá. Beleza... Engrenei na pauta com a Johanna. Ela me explicou tudo em que pé estava e o que ainda precisaríamos fazer.

Na quinta, entrevistei por telefone o Cezar Alvarez (assessor especial da Presidência da República que coordena o grupo de trabalho do projeto UCA).

A Johanna tinha marcado a entrevista com a secretária dele, mas, quando me falou o nome dele, eu logo reconheci. Eu tinha trabalhado com ele no ano passado, quando eu morava em Brasília.

A secretária não queria deixar que fosse eu porque o "dr Cezar já estava com a expectativa de conceder a entrevista para a Johanna, em não para a Mariana".

Mas eu pedi para ela que explicasse a ele quem eu era e ele me atendeu. Bom, fiz a entrevista e transcrevi a fita. Depois saí correndo para Guarulhos para pegar meu vôo para Porto Alegre

Na sexta, dia 15, em Porto Alegre, visitei a escola EE Luciana de Abreu e o estande de apresentação do projeto na feira Inova, na UFRGS.

De volta a São Paulo, na segunda, dia 18, falei com Irom, diretor da escola de Porto Alegre, para pedir para ele mandar e-mails das crianças para fazermos um chat com alunos de escola particular, que visitaríamos na quarta e na quinta.

Ele falou que, na quarta, os alunos não teriam aulas, só poderíamos fazer na quinta, quando estaríamos no Colégio Santa Cruz, em SP.

Ainda na segunda, marquei com a Irene de visitar a escola pública de SP na quarta.

Falei com Elaine do MEC para marcar entrevista com o secretário de Educação a Distância.

Eu deveria ter ido para Tocantins à noite, mas descobrimos que a passagem custa R$ 1.500 e desistimos da viagem.

Liguei para o telefone do Negroponte que o MIT forneceu. Atendeu um colega dele que disse que ele estava em viagem de cem dias, mas recomendou que insistíssemos por e-mail para falar com David Cavallo, para quem já tínhamos mandado e-mail, mas que ainda não havia respondido.

Terça, dia 19/06

Fiz entrevista por telefone com Leila Ramos, da escola de Tocantins, já que não iria mais pessoalmente.

Confirmei com a Paula da Escola Nossa Senhora das Graças (Gracinha) a visita no dia seguinte, quarta, às 13h.

Veio o Rafael trazer computador Mobilis (explicou o funcionamento), mas teve que levar de volta para configurá-lo para pegar internet nas escolas. Ficou de trazer no dia seguinte.

A Intel mandou e-mail perguntando se poderia trazer o computador amanhã (tinha ficado de trazer hoje).

Passei fita com gravação do aluno do Sul explicando seu projeto sobre dinossauros para Ju disponibilizar na versão online.

Mandei mais um e-mail para Elaine do MEC cobrando entrevista com o secretário.

Fiz um esboço da arte.

No fim do dia, ligou a Irene cancelando a visita à escola de SP, porque tinha acontecido algum problema entre a Secretaria de Educação do Estado de SP e o MEC.

A secretaria tinha mandado inclusive tirar os computadores da escola.

Quarta, dia 20/06

De manhã, Rafael da Mobilis vinha deixar o computador às 9h. Às 11h25 consigo entrar em contato com ele e ele me diz que não vai ser possível. Fiquei muito brava com ele e, no fim, consegui que ele levasse para mim direto lá no Gracinha.

De manhã, um motoboy da Intel veio deixar mais um classmate.

Peguei a lista de e-mails das crianças da 6ª série da EE Luciana de Abreu e passei para o Moisés (responsável pelo centro de informática do Colégio Santa Cruz) para criar um egroups.

Finalmente consegui entrevistar por telefone o Carlos Bielschowsky, secretário de Educação a Distância do MEC.

Ele foi super-escorregadio na entrevista. Quando transcrevi a entrevista me achei uma besta.... ele só me enrolou. Contou que o governo está planejando ampliar o projeto, estender o uso dos laptops para mais várias escolas da rede pública, mas me enrolou e não disse nem quantos computadores, nem quando, nem em quantas escolas.

Às 13h, fomos ao Gracinha - representantes da Intel levaram os computadores lá para gente e acompanharam a visita. A móbilis só deixou o computador lá e foi embora. Testamos os três modelos de laptop com alunos do ensino fundamental que a escola já tinha selecionado.

Às 16h, fomos ao Colégio Bandeirantes. De novo, testamos os computadores com os alunos e anotamos suas impressões.

Na quinta, dia 21, fomos às 9h testar os malditos no Colégio Santa Cruz. Eu estudei lá, gostei de voltar tantos anos depois. O diretor fez questão de nos receber pessoalmente, disse que lembrava de mim; também reencontrei a minha professora de português da 5ª série, mãe de uma amigona minha da faculdade.

Enfim, além do momento túnel do tempo, fizemos toda a coisa de testar os computadores. Nesse dia, pudemos colocar os alunos de São Paulo em contato com os de Porto Alegre em chat. Organizar o tal chat deu muito trabalho, e os alunos nem falaram coisas muito interessantes....

Ficavam falando só "legal", "é", "hauahaua"...

De volta à Folha: arte, diagramação, ouvir fita da entrevista com Carlos Bielschowsky.

Na sexta, dia 22, fomos atrás de confirmar a história de que vai ter uma fase 2, com extensão do uso dos laptops para mais várias escolas.

Com ajuda do Spinelli, descobrimos no site do MEC o edital de licitação de mais mil notebooks. Indício da ampliação do programa...

Liguei para Léa Fagundes, de Porto Alegre, e joguei um verde para ver se ela tava sabendo dos planos de ampliação (o secretário Bielschowsky se referiu a ela na entrevista, mais de uma vez, como uma "grande amiga". Achei que ela pudesse ter insider information).

Ela não sabia da licitação, mas sabia que o governo está planejando ampliar para 100mil-200 mil computadores (número que bateu com o fornecido por uma fonte que a Johanna procurou).

Baixamos as fotos da ida ao Santa Cruz e fizemos as legendas.

Fizemos uma primeira versão do texto da ida às escolas particulares e do texto da segurança dos computadores.

Nessa versão inicial, não considerávamos a segurança um problema e defendíamos que as escolas planejavam que os alunos, um dia, levassem para casa. A Ana odiou. Para ela, era extremamente necessário dizer que os laptops (computadores que são feitos para ser móveis) estavam sendo usados nas escolas como desktops.

Segunda, dia 25/06

Fizemos texto do abre. Terminei texto das escolas particulares.

A Johanna pediu para o MEC mandar por fax a íntegra do texto de edital (que tinha sido cancelado por especificações técnicas e não estava mais disponível na internet).

No edital, estavam listadas umas escolas que deveriam receber os laptops.

Ligamos para escolas constantes do edital para confirmar se vão receber mesmo os notebooks. Sim, elas estavam sabendo que o projeto ia ser ampliado. Mais uma prova de que haveria expansão. E isso seria a nossa notícia!

Passamos para a arte as fotos dos três modelos de laptops.

(curso de cinema 16h-18h)

O pessoal ligado à escola de São Paulo disse que o problema com o MEC tava resolvido e que, se quiséssemos, já podíamos visitar a escola.

Terça, dia 26/06

Visitamos a escola de manhã: 40 minutos para ir e mais 40 para voltar, uma viagem...

Na volta, arrumamos o texto do abre e o texto de escolas particulares, ligando e conferindo umas últimas informações.

Olhamos a primeira versão da arte e fizemos umas correções.

Quarta, dia 27/06

Terminamos os três textos (abre e subs).

Falei com o Carlos Bielschowsky de novo para apurar últimas infomações. Tentei ser mais direta para, dessa vez, não deixar ele me enrolar.

Terminamos a Arte!!(mudou tudo e a parte que mostrava os três modelos de laptop ficou só para o online).

Escolhemos as fotos (tivemos que pautar de novo fotógrafo para Brasília, porque descobrimos que ainda não tinha ido ninguém).

Quinta, dia 28/06

Últimos momentos...

Revisão final de todos os textos, artes, legendas, créditos.

Descobrimos que a foto que íamos usar para o "expediente" não tinha resolução suficiente para ser publicada. Precisamos, então, correr e tirar uma foto na redação mesmo para entrar no caderno.

Pena.

A foto original tinha sido tirada por um aluno do Santa Cruz com a câmara embutida no modelo XO. Não só isso, mas ela mostrava nós duas entre os computadores, bem legal. Mas não deu. A Ju bateu uma foto nossa, que ficou boa e pronto, resolvido.

Sexta, dia 29/06

Sessão de fotos da galera no telhado da Folha.

E depois a Ana nos comunicou qual seria o microespaço que teríamos para as nossas matérias na edição de sábado.

Nossos laptops foram engolidos por um anúncio gigante. Cortamos absurdamente o texto do abre e ainda juntamos algumas poucas informações que faziam parte do texto da sub. Acertamos o tamanho do título, linha fina e lupa.

Bom, se eu tivesse esperando as fontes de setor aéreo retornarem as minhas ligações, estaria esperando até agora....

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