Ar-condicionado, toldos e placas alteram aparência de imóveis

Pesquisa da Folha mostra incidência de objetos estranhos às fachadas originais, sujeira e vandalismo

Questionário considerou 13 tipos de problemas nos imóveis que compõem patrimônio federal e estadual em São Paulo

Levantamento realizado pela Folha em 98 prédios tombados de São Paulo aponta que quase metade do patrimônio histórico e arquitetônico da cidade apresenta algum elemento que descaracteriza a fachada, como aparelhos de ar-condicionado, toldos e placas.

A pesquisa, feita entre 22 e 30 de novembro, considerou os edifícios cujo tombamento foi realizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ou pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) _órgãos da esfera federal e estadual, respectivamente.

Dois prédios visitados estavam em ruínas e não foram incluídos nas estatísticas finais, já que não havia paredes ou outros elementos para avaliar.

Na maioria dos casos, os elementos estranhos encontrados nos prédios eram condicionadores de ar. No Instituto Butantã, tombado pelo Condephaat, por exemplo, foram contados 52 em um dos prédios.

O presidente do Iphan, Victor Hugo Mori, diz que alterações têm que passar pelo crivo dos órgãos responsáveis, mas, em geral, são aceitas: "Um monumento só chega até os dias de hoje se foi capaz de mudar."

Metodologia
Sete dos 96 prédios avaliados não puderam ter sua fachada analisada porque estavam em restauro ou porque a visita da reportagem não foi autorizada.

No restante, o levantamento considerou sete itens: paredes, elementos decorativos, escadas, portas, janelas, piso e forro.

Eles foram analisados em relação a problemas como descaracterização da fachada, umidade, vandalismo, rachaduras, sujeira e fissuras. Os problemas eram classificados como "simples" ou "grave".

A metodologia foi elaborada com a ajuda do Datafolha e da arquiteta Leila Diêgoli, professora da Universidade Católica de Santos e especialista em preservação e restauro do patrimônio arquitetônico.

Os principais problemas foram encontrados nas paredes em 72 imóveis, estavam sujas. Quase 70% das paredes tinham fissuras, 17% rachaduras e 53% umidade. Vandalismo sobretudo pichações_ afeta 1 em cada 3 prédios (veja quadro nesta página).

"A sociedade tem dificuldade de identificar o valor artístico da arquitetura. Um quadro, uma escultura, as pessoas identificam mais como obra de arte. Ninguém imagina dar uma pincelada num [quadro do Alfredo] Volpi", ressalta Mônica Junqueira Camargo, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.