12/12/2007
Uso de bem tombado exige alteração, diz arquiteto
RICARDO VIEL
TANIELE RUI
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
Pesquisador e professor da FAU-USP defende adequação dos prédios históricos às necessidades atuais, para que possam "continuar com sua história"
Um dos principais especialistas em arquitetura de São Paulo, o arquiteto e historiador Carlos Lemos defende a modernização do patrimônio histórico e sua alteração para o uso como soluções para a aparente incompatibilidade entre o velho e o novo.
Autor de livros sobre a arquitetura paulista e um dos homenageados na Bienal de Arquitetura deste ano, Lemos falou sobre a política de preservação do patrimônio, mas preferiu não fazer críticas ao Condephaat.
FOLHA - Qual a sua avaliação sobre a política de preservação patrimonial existente no país?
CARLOS LEMOS - Hoje em dia não existe uma política nacional. No tempo do Lúcio Costa e Rodrigo Melo Franco de Andrade, havia. Era uma dupla de muita autoridade e respeito. Depois que ambos saíram, não houve mais continuidade de administração. As pessoas passaram a ser descartáveis lá dentro e começaram a surgir vários diretores. Uns bons, outros inoperantes. Ninguém ruim, mas muita gente sem autoridade.
FOLHA - Então não existe um projeto nacional para o patrimônio?
LEMOS - Está bem dirigido, arrumadinho. Mas, em sã consciência, a gente realmente não pode dizer que o Iphan de hoje tem um pensamento comum no país inteiro.
FOLHA - Essa necessidade de conservar para preservar não pode levar ao congelamento da história?
LEMOS - A Carta de Veneza [sobre conservação e restauro de monumentos], de 1964, diz que todas as intervenções que aconteceram ao longo da vida do bem devem ser preservadas.
Expurgar e demolir só aderências que sejam aviltantes, de mau gosto, que realmente prejudicam o monumento. Mas, muita gente achava, e ainda acha, que tem que limpar completamente, que tem que deixar o bem como ele era no dia do nascimento.
Em Portugal, por exemplo, tiraram das igrejas românicas púlpitos barrocos, recebidos ao longo do tempo e deixaram a pedra nua porque consideravam aquilo espúrio.
Se a carta aceita adendos anteriores ao tombamento, tem que aceitar os adendos posteriores, para o monumento continuar com sua história.