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Novo em Folha 44ª turma
12/12/2007

Funcionário ouve 15 vezes ao dia: "O que tem aí dentro?"

RICARDO VIEL
DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Casa que foi da filha do barão de Iguape e hoje é um clube privado escondido atrás de muros fica em local movimentado e atrai a curiosidade dos pedestres

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Vista do portão da casa de d. Veridiana, tombada pelo Condephaat e considerada uma das mais representativas de Higienópolis
Vista do portão da casa de d. Veridiana, tombada pelo Condephaat e considerada uma das mais representativas de Higienópolis

"Esta casa foi construída em 1884 por Veridiana Valéria da Silva Prado, filha do barão de Iguape e figura importante na vida social, política e cultural da cidade. A construção em estilo eclético é representativa da origem do bairro de Higienópolis e foi tombada em 2006 pelo Condephaat."

Se uma placa com esses dizeres existisse e estivesse afixada em frente ao imóvel da av. Higienópolis, 18, Dino Gaudino, funcionário há 20 anos do São Paulo Clube atual proprietário da casa, teria bem menos trabalho.

Segundo ele, em média 15 pessoas perguntam diariamente o que é o imóvel.

Gaudino conhece a história da casa em detalhes. Sabe, inclusive, que a proprietária rompeu com os padrões da época ao se separar do marido, com quem se casou aos 13 anos por imposição familiar.

Em 1959, o clube de empresários comprou a casa. Além das reuniões de seus sócios, ali também acontecem exposições privadas de artes e eventos _ como festas e casamentos.

De tanto passar em frente ao terreno de 8.000 m2, Ranieri Ferraz, 22, aluno do Mackenzie que fica do outro lado da rua, resolveu um dia parar e perguntar.

Foi informado, apenas, que "é um clube".

Quem também gostaria de visitar a casa é Neuza Bottacini, 58, que trabalha em um edifício de onde se vê parte do terreno.

"Quis conhecer o lago. Disseram que é só para quem vai alugar para festas", conta.

Segundo ela, de madrugada é possível escutar os patos do lago "cantando". Há dois anos, seu "patrão" foi convidado para uma festa. Voltou dizendo que a casa era muito bonita, "maravilhosa".

Quem também teve a oportunidade de conhecer o prédio é Tiago Daniel, 21, funcionário do supermercado que fica do outro lado da rua.

"Fui fazer uma entrega. A casa é bonita, parece um palácio", conta.

Seu colega de trabalho Mozart Stepan, 23, diz que, todo dia, de três a quatro pessoas perguntam sobre o imóvel.

Ele repassa aos clientes o que alguém um dia lhe contou: é uma casa de festas.

"Não tenho certeza, mas parece que era a antiga faculdade de arquitetura da USP", arrisca Marília Tomé Silva, 21, aluna de psicologia do Mackenzie.

Adelaide Morais, 38, que mora no bairro há oito anos, já escutou várias teorias sobre o imóvel. "Sei que foi a casa dessa senhora, dona Veridiana. Uma época foi bufê e agora é um clube de carros."

Segundo ela, da calçada é possível ver, por entre a vegetação, um pedaço da casa e do lago. "Muito bonito", acrescenta.

Interesse público
A professora da FAU-USP Mônica Junqueira Camargo explica que, embora o tombamento não interfira na questão da propriedade o prédio privado segue sendo privado, o bem passa a ser de interesse público.

Segundo ela, há países que adotam, anualmente, o dia do patrimônio histórico.

"Os proprietários de imóveis tombados abrem suas casas para visitação, com suporte logístico do Estado", afirma.

O arquiteto Carlos Faggin cita a casa do pintor Rembrandt, na Holanda, como exemplo de possibilidade de lucro para o proprietário de um prédio histórico tombado.

"O proprietário ganha dinheiro do Estado se deixar a casa aberta para visitação pública duas horas por dia. Assim ele passa a ser defensor daquilo".

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