12/12/2007
Elas cuidam da igreja como da própria casa
DANIELA ALARCON
LUCAS FERRAZ
TANIELE RUI
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
A capela dos Aflitos, espremida em um beco na Liberdade, é tombada e qualquer reforma deve ser autorizada pelo Condephaat.
Apesar disso, a devota Maria Selma dos Santos Souza colocou vidros na frente das imagens de Jesus, São José e Santo Antônio de Catijeró.
Ela entrou na capela de madrugada, com seu filho, sem que ninguém visse.
Se o padre ficou bravo? Ela desconversa e justifica: "A fé do povo católico é tão grande que as pessoas agarram os santos. O menino Jesus já tinha quebrado as pontas dos dedos".
Na capela eram enterrados os indigentes, no século 18. Hoje, almas aflitas lotam a igreja às segundas-feiras para o concorrido terço da dona Selma.
Há 40 anos, ela acorda todos os dias às 2h30 da manhã e viaja de Peruíbe a São Paulo para cumprir uma agenda lotada de missas e rezas, em três igrejas.
Além de cuidar da vida espiritual dos seus "bebês" é assim que se dirige a todos, zela pela vida material da capela: troca flores, tapetes e faz pequenos reparos.
Mão na massa
A igreja N. Sra. do Rosário, na Penha, também é um exemplo de patrimônio histórico conservado pelo uso. Nela moram nove "irmãs" e quatro "filhas" da comunidade missionária "O Caminho".
Na casa-igreja, as quatro "filhas" Cleusa, Maria, Gi e Odete dormem num quarto anexo, em suas próprias camas. Já as irmãs dormem em finos colchões, no interior da capela. Quando acordam, limpam o local e servem café da manhã aos moradores da praça.
As 13 estão na casa há sete meses, mas, nos últimos quatro anos, irmãs dessa comunidade se revezam no local. Cada "família" que mora lá faz algum tipo de reforma. "Nós pintamos as paredes e trocamos as luzes. Foi uma forma de colocar a mão na massa e sentir que era um lugar nosso", diz Chiara, a irmã que coordena a casa.
De taipa de pilão, a capela é a única de SP voltada para a periferia, de costas para o centro.